São Paulo, segunda-feira, 28 de outubro de 2002

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AMBIENTE

Redes estudarão influência do continente no clima sul-americano e o impacto das atividades humanas na região

País inicia novo programa para Antártida

Toni Pires - 7.dez.2001/Folha Imagem
Navio Ary Rongel fundeia na baía do Almirantado, na ilha Rei George, onde o Brasil faz pesquisas


CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA

Depois de 20 anos, o Brasil começa a dar um rumo para seu programa de pesquisas na Antártida. O Navio de Apoio Oceanográfico Ary Rongel parte amanhã para o continente com a primeira leva de cientistas a trabalhar de forma integrada para responder a duas questões: qual é a influência do clima antártico sobre o Brasil e qual é o impacto das atividades humanas sobre o ecossistema local, um dos mais frágeis da Terra.
A nova fase do Proantar (Programa Antártico Brasileiro) deve contar com 124 pesquisadores e cumprir um duplo objetivo: manter o programa, ameaçado pela crise financeira do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e nortear a ciência antártica brasileira, cada vez mais difícil de justificar para o contribuinte.
"Por que investir na Antártida recursos que poderiam ser usados em outras áreas do país? Nós precisamos ficar justificando constantemente", disse a oceanógrafa Tânia Brito, do MMA (Ministério do Meio Ambiente). "Temos séries longas e contínuas de dados muito valiosos para a região que estudamos. Mas já era hora de dar um norte ao programa", afirmou.
Os estudos serão feitos nos próximos dois anos por duas redes de pesquisa, montadas por iniciativa do MMA, que financiou R$ 2,8 milhões do total de R$ 5 milhões que destinados a essa fase do programa (o restante da verba virá da Marinha e do CNPq).
A primeira rede, coordenada por Jefferson Simões (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), vai analisar o impacto das mudanças globais na Antártida, as interações entre o oceano, a criosfera (gelo) e a atmosfera e as conexões do continente austral com o clima na América do Sul.
Esses dados, importantes para um país agrícola como o Brasil, até agora não existem. Isso deriva, em parte, do fato de a maioria dos estudos na região ser feita por países do hemisfério Norte, e em parte da falta de direcionamento do Proantar até agora.
Criado em 1982 para justificar a adesão do Brasil ao Tratado Antártico, o Proantar tem funcionado com projetos de balcão. Qualquer pesquisador que tivesse uma boa idéia podia se candidatar a financiamento. O resultado foi, por um lado, um programa com liberdade total à pesquisa básica. Por outro, uma ciência muito mais descritiva que explicativa, dados que não integravam áreas diferentes, mas complementares -como estudos de poluição por petróleo e microrganismos marinhos, por exemplo- e, às vezes, duplicação de esforços.
"Hoje temos dados sobre poluição marinha na minha linguagem, sobre aves em outra e sobre botânica em outra", disse à Folha o oceanógrafo químico Rolf Roland Weber, do Instituto Oceanográfico da USP.
Ele coordena a segunda rede de pesquisa, que vai avaliar impactos locais das atividades humanas -ou seja, como cientistas e turistas afetam a Antártida.
A rede conta com cerca de 60 pessoas e deverá produzir um plano de gerenciamento para a baía do Almirantado, na ilha Rei George. O local, com temperaturas geralmente positivas no verão, é uma das áreas com maior número de estações de pesquisa na Antártida. A baía abriga, além da brasileira Comandante Ferraz, estações de Polônia e Peru.
Segundo Weber, os 15 grupos de pesquisa da rede deverão produzir um mapa detalhado das condições ambientais da baía, que leve em conta dados como a quantidade de poluição por petróleo e derivados, esgotos e a resposta plantas e animais marinhos.
"Queria comparar a minha pesquisa [com petróleo] com os dados de organismos de fundo, por exemplo", diz o cientista.
Depois de pronto, o mapa deverá servir para orientar, entre outras coisas, a construção de novas instalações, e planejar a atividade turística no local.


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