|
Próximo Texto | Índice
POLÍTICA CIENTÍFICA
Telescópio de ponta construído no Chile em parceria com americanos pode competir até com Hubble
Astronomia brasileira chega à 1ª divisão
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os astrônomos brasileiros devem, a partir do ano que vem, começar a disputar para valer o
campeonato da primeira divisão
de sua categoria. Essa é a analogia
usada pelo astrônomo João Steiner para exemplificar o impacto
que terá a inauguração do Telescópio Soar, instalado no Chile.
Construído em parceria por
brasileiros, americanos e chilenos, o novo instrumento deve colocar à disposição dos pesquisadores recursos capazes de competir até mesmo com o Telescópio
Espacial Hubble.
Os chilenos entraram com o terreno -uma área em Cerro Pachón, nos Andes chilenos, mesma
região em que está instalado o Gemini Sul, que também tem participação brasileira.
Brasil e EUA entraram com o financiamento. O Brasil respondeu
por 34% dos recursos investidos
na construção do telescópio
-US$ 12 milhões, sendo 10 milhões do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e 2 milhões da
Fapesp (Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo).
A verba restante veio dos EUA.
O governo americano colocou
33%. Os outros 33% vieram de
duas universidades daquele país
(Carolina do Norte e Michigan).
Isso faz do Brasil um sócio majoritário, o que parece ter pesado
na escolha do presidente do comitê diretor do telescópio. João Steiner, do Instituto de Astronomia,
Geofísica e Ciências Atmosféricas
da Universidade de São Paulo, foi
o escolhido. Ele também é um dos
nove diretores nomeados para o
comitê, que tem três brasileiros e
seis americanos.
Rival do Hubble
O telescópio, com seu espelho
primário de 4,2 metros de abertura, deve fazer em terra o que até
outro dia só o Hubble conseguia
fazer do espaço. Seus resultados
devem rivalizar com as imagens
feitas em órbita. "Em algumas
áreas, vão ser ainda melhores
[que os do Hubble]", diz Steiner.
Há duas grandes tecnologias
que permitem esse sucesso. A primeira é a chamada óptica ativa, a
construção de um sistema sob o
espelho primário capaz de mantê-lo na forma parabolóide ideal para as observações.
A segunda é a óptica adaptativa.
Trata-se de uma técnica que é capaz de corrigir a interferência nas
imagens causada pela turbulência
atmosférica. A atmosfera é o
maior desafio imposto aos astrônomos que trabalham captando
imagens em terra. Por essa razão
os observatórios costumam ser
instalados nas altitudes mais elevadas -a idéia é poder contar
com um ar mais rarefeito e, portanto, menos capaz de produzir
alterações nas características da
luz que vem do espaço.
Quando o telescópio estiver em
operação, os astrônomos brasileiros finalmente terão onde conduzir pesquisas de ponta. Hoje, o observatório do Laboratório Nacional de Astrofísica já não oferece
mais as condições técnicas para
mantê-los em pé de igualdade
com os estrangeiros.
A participação brasileira no Gemini (um par de telescópios, instalados no Havaí e no Chile, para
monitorar o céu dos dois hemisférios) foi um bom passo nessa direção, mas ainda era muito pouco. Com uma participação pequena (2,4%), o Brasil teria direito a
apenas seis dias por ano de observações. "Isso não atende à demanda dos trabalhos de mestrado
e doutorado sendo realizados no
país", afirma Steiner.
Produção nacional
No Soar (sigla para Southern
Astrophysical Research, ou Pesquisa Astrofísica do Sul), os chilenos ficaram com a menor fatia do
tempo de uso: 10%. Dos dias restantes, o Brasil tem direito a 34%
-o equivalente a 112 dias por
ano, aproximadamente.
Com isso, a astronomia brasileira deve ampliar sua participação
na produção científica mundial.
Hoje, essa fatia gira em torno dos
2% (é uma das áreas em que o
Brasil vai bem, comparável a física
e ciências agrárias).
"É como eu costumo dizer: nós
sempre tivemos um bom time,
mas antes estávamos jogando na
segunda divisão", diz Steiner. "A
partir de 17 de abril, com a inauguração do Soar, vamos saltar para a primeira divisão da astronomia mundial."
O escritório do Soar já está recebendo os primeiros pedidos de
alocação de tempo no telescópio.
O prazo para enviar uma proposta se encerra em 15 de novembro.
Próximo Texto: Astrofísica: Observatório detecta raio cósmico em estéreo Índice
|