São Paulo, Domingo, 28 de Novembro de 1999


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FUTURO
Israel simula explosões atômicas para calibrar aparelhos e melhorar monitora mento na área
Vigilância nuclear

MARCELO FERRONI
Editor-assistente de Ciência

O mar Morto, no Oriente Médio, foi abalado no início do mês por três explosões submarinas realizadas por Israel. As detonações, no entanto, não eram de ogivas atômicas, e sim simulações de testes nucleares subterrâneos.
Em 11 de novembro, geólogos israelenses detonaram 5 toneladas de explosivos no mar Morto para criar o efeito de um terremoto e calibrar seus sismógrafos, aparelhos que medem a intensidade de tremores de terra.
Mas o objetivo não estava só ligado a desastres ambientais. Os pesquisadores procuravam também "aprender" quais são os sinais registrados pelos equipamentos quando alguém decide realizar testes nucleares subterrâneos secretos.
"As medições levarão a uma forma mais precisa de monitorar os eventos sísmicos do Oriente Médio, como terremotos, explosões em terra ou no mar e potenciais testes nucleares clandestinos", disse à Folha, por e-mail, Yefim Gitterman, do Instituto Geofísico de Israel.
Foram três as explosões programadas. As duas primeiras, com 500 kg e 2.050 kg de explosivos, serviram de testes para a última, com os 5.000 kg, ou 5 toneladas. O local escolhido ficava a 5 km da costa, a uma profundidade de 70 m da superfície.
Como os pesquisadores tinham o local exato em que o evento ocorreria, os dados obtidos por sismógrafos poderiam ser mais bem analisados e, assim, calibrados de forma precisa.
Durante os experimentos, a terceira explosão causou um abalo equivalente a 4 pontos na escala Richter, que mede a intensidade de terremotos.
"Dois meses antes do experimento, anunciamos as datas e os locais exatos das explosões a organizações nacionais e internacionais, de forma que elas pudessem preparar seus equipamentos", afirmou Gitterman.
"Agora, recebemos a informação de que a maior explosão foi observada em estações em Jordânia, Grécia, França, Espanha e Rússia, entre outros."

Testes pacíficos
O mar Morto foi escolhido para os testes por se tratar de uma região com poucas formas de vida, devido ao alto grau de salinidade de suas águas.
"O experimento não foi designado por motivos militares", disse Gitterman, ao ser questionado se o motivo principal dos testes era criar uma forma mais segura de monitorar os movimentos nucleares dos países vizinhos.
"Ao contrário, ele foi conduzido por motivos pacíficos, que é monitorar o CTBT, Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares (na sigla em inglês)".
O tratado proíbe testes nucleares, militares ou civis, na superfície ou no subsolo e prevê a implementação de um sistema de controle internacional, com um banco de dados, para verificar sua aplicação. Israel assinou o acordo, mas ainda precisa ratificá-lo.
Recentemente, o CTBT, firmado em setembro de 96, voltou ao noticiário. Em 13 de outubro, o Senado norte-americano, de maioria republicana, rejeitou a proposta de ratificação do tratado, numa derrota da política externa do presidente Bill Clinton.
No caso do Brasil, o tratado foi assinado em 96 e ratificado em 98.


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