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FUTURO
Israel simula explosões atômicas para calibrar aparelhos e melhorar
monitora mento na área
Vigilância nuclear
MARCELO FERRONI
Editor-assistente de Ciência
O mar Morto, no Oriente Médio, foi abalado no início do mês
por três explosões submarinas
realizadas por Israel. As detonações, no entanto, não eram de ogivas atômicas, e sim simulações de
testes nucleares subterrâneos.
Em 11 de novembro, geólogos
israelenses detonaram 5 toneladas de explosivos no mar Morto
para criar o efeito de um terremoto e calibrar seus sismógrafos,
aparelhos que medem a intensidade de tremores de terra.
Mas o objetivo não estava só ligado a desastres ambientais. Os
pesquisadores procuravam também "aprender" quais são os sinais registrados pelos equipamentos quando alguém decide
realizar testes nucleares subterrâneos secretos.
"As medições levarão a uma
forma mais precisa de monitorar
os eventos sísmicos do Oriente
Médio, como terremotos, explosões em terra ou no mar e potenciais testes nucleares clandestinos", disse à Folha, por e-mail,
Yefim Gitterman, do Instituto
Geofísico de Israel.
Foram três as explosões programadas. As duas primeiras, com
500 kg e 2.050 kg de explosivos,
serviram de testes para a última,
com os 5.000 kg, ou 5 toneladas. O
local escolhido ficava a 5 km da
costa, a uma profundidade de 70
m da superfície.
Como os pesquisadores tinham
o local exato em que o evento
ocorreria, os dados obtidos por
sismógrafos poderiam ser mais
bem analisados e, assim, calibrados de forma precisa.
Durante os experimentos, a terceira explosão causou um abalo
equivalente a 4 pontos na escala
Richter, que mede a intensidade
de terremotos.
"Dois meses antes do experimento, anunciamos as datas e os
locais exatos das explosões a organizações nacionais e internacionais, de forma que elas pudessem preparar seus equipamentos", afirmou Gitterman.
"Agora, recebemos a informação de que a maior explosão foi
observada em estações em Jordânia, Grécia, França, Espanha e
Rússia, entre outros."
Testes pacíficos
O mar Morto foi escolhido para
os testes por se tratar de uma região com poucas formas de vida,
devido ao alto grau de salinidade
de suas águas.
"O experimento não foi designado por motivos militares", disse Gitterman, ao ser questionado
se o motivo principal dos testes
era criar uma forma mais segura
de monitorar os movimentos nucleares dos países vizinhos.
"Ao contrário, ele foi conduzido
por motivos pacíficos, que é monitorar o CTBT, Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares
(na sigla em inglês)".
O tratado proíbe testes nucleares, militares ou civis, na superfície ou no subsolo e prevê a implementação de um sistema de controle internacional, com um banco de dados, para verificar sua
aplicação. Israel assinou o acordo,
mas ainda precisa ratificá-lo.
Recentemente, o CTBT, firmado em setembro de 96, voltou ao
noticiário. Em 13 de outubro, o
Senado norte-americano, de
maioria republicana, rejeitou a
proposta de ratificação do tratado, numa derrota da política externa do presidente Bill Clinton.
No caso do Brasil, o tratado foi
assinado em 96 e ratificado em 98.
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