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Surfistas fazem ciência das ondas gigantes ser revista
Em tese, ondas de mais de 20 m seriam raríssimas, mas nesta década o surfe sobre elas virou esporte bilionário
O aquecimento global, ao deixar os oceanos mais instáveis, está fazendo o tamanho das ondas aumentar rápido
RICARDO MIOTO
DE SÃO PAULO
Aonde o surfista vai, o
cientista vai atrás.
Isso está acontecendo porque, nos últimos anos, os
pesquisadores perceberam
que muito do que sabiam sobre ondas gigantes estava
simplesmente errado. E
quem diria: foram surfistas
que mostraram isso.
É que os cientistas duvidavam que ondas extremas,
com quase 30 metros, fossem
comuns. Mas surfistas insistiam em encontrá-las.
Por isso, lugares como Oahu, uma ilha repleta de gente
com pranchas no Havaí, por
exemplo, tornaram-se sedes
de constantes congressos
científicos sobre o tema.
Em meio ao clima de "paz,
amor e aloha", entre quiosques de frutos do mar, artesanato e camisetas de cânhamo, agora cientistas branquelos e ensapatados discutem coisas como a "modelagem númerica dos oceanos".
A jornalista americana Susan Casey, que lança no Brasil o livro "A Onda" [Zahar,
311 pág., R$ 30], acompanhou um desses encontros.
"Os cientistas temporariamente triplicaram o QI per
capita do local", brinca. Eles
estavam preocupados. Se as
teorias diziam que ondas gigantes eram tão improváveis
quanto neve em Cuiabá, era
cada vez mais nítido que elas
tinham o ligeiro defeito de
não bater com os fatos.
No passado, alguns dissidentes defenderam que ondas enormes em alto mar estavam afundando navios,
mas não convenceram muita
gente. O caso mais famoso foi
o do misterioso cargueiro alemão München, que afundou
no Atlântico Norte em 1978.
Tanto o navio quanto a tripulação continuam desaparecidos até hoje.
"É o problema em se provar ondas gigantes: se você
se depara com esse pesadelo,
é provável que ele seja o último da sua vida", diz Casey.
Dois acontecimentos, porém, fizeram isso mudar.
Primeiro, em 1995, uma
onda gigante bateu em algo
fixo o suficiente para que sobrasse gente para contar a
história: uma plataforma de
petróleo perto da Noruega.
Os registros mostram uma
onda de 25 metros batendo a
75 quilômetros por hora. Deu
um imenso susto e danificou
a plataforma, mas ela não
afundou. Ninguém morreu.
Os engenheiros que a projetaram tinham calculado
que, "uma vez a cada mil
anos", apareceria uma onda
com algo entre "dez e vinte
metros". Coisas maiores do
que isso simplesmente não
existiriam por ali. Existiam.
O outro acontecimento foi
o surfe em ondas gigantes.
Ele virou, nos anos 2000,
uma indústria que gera, só
na América do Norte, US$ 7,5
bilhões ao ano: muitas marcas estão dispostas a gastar
para se vincular ao esporte
radical e convencer o público
de que podem "dar asas".
Em 2001, a Billabong, empresa que faz roupas de surfe, passou a oferecer prêmios
para quem surfasse a maior
onda do ano. Isso criou uma
"corrida do ouro" pelo mundo. Cada vez que um surfista
de ondas grandes pegava a
sua prancha, dava um tapa
na cara dos cientistas.
Os pesquisadores, porém,
estão avançando, mesmo
sendo difícil traduzir o oceano em equações: as interações entre água, atmosfera e
calor são muito complexas.
Eles já chegaram a uma
conclusão importante: o
aquecimento global tem feito
a altura das ondas aumentar
quase 10% a cada década ao
menos desde 1960.
Isso porque água mais
quente quer dizer água mais
instável. Isso significa, por
exemplo, mais tempestades
em alto mar -e mais ondas
grandes chegando à costa.
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