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Pioneiro em detectar desmate alerta para alta do preço da soja
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Soja desmata, sim. E provavelmente está desmatando
agora em Mato Grosso, aproveitando a alta do preço internacional -diferentemente do
que dizem o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, e
o governador de Mato Grosso,
Blairo Maggi, ao insistirem que
o grão não teve culpa pela aceleração da derrubada no último
semestre do ano passado.
Quem diz é Douglas Morton,
especialista em sensoriamento
remoto da Universidade de
Maryland (EUA) e pesquisador
do LBA (Experimento em
Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia).
Morton foi o primeiro cientista a detectar, usando imagens de satélite, um fenômeno
então novo em Mato Grosso: o
desmatamento direto para a
agricultura. Em um estudo publicado em 2006, ele mostrou
que de 25% a 30% do desmatamento em Mato Grosso em
2003 -ano de alta no preço da
soja- haviam se dado num período curto de tempo, por causa
do plantio de grãos.
O padrão era inédito: até então, reinava a noção de que
eram necessários três anos para transformar floresta em lavoura. "Durante o pico do desmatamento naquele ano, entre
setembro e outubro, foi possível derrubar a área e plantar já
no começo do ano seguinte, por
causa do preço", disse o pesquisador à Folha. "Esse padrão
pode estar se repetindo agora",
afirma, já que o preço da soja
na bolsa de Chicago é o mais alto dos últimos cinco anos.
Dois fatores levam Morton a
essa conclusão. Primeiro, os
dois sistemas de detecção do
desmatamento em tempo real
-o Deter, do Inpe (Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais), e o SAD, do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia)- relatam
rigorosamente a mesma área
desmatada em Mato Grosso
entre agosto e dezembro de
2007: cerca de 1.700 km2.
"Se os valores são similares,
me parece que haja um sinal
real [de crescimento no desmate]", afirmou. Morton diz que
os dados do Inpe para setembro e outubro, que acusavam
um desmatamento grande, foram superestimados por causa
de incêndios que foram confundidos com derrubada. Mas
os dados já foram corrigidos.
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