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Amazônia só tolera mais 3% de desmate
Floresta já perdeu 17% da extensão original; se número chegar a 20%, mata começa a se reduzir sozinha, diz relatório
Cobertura vegetal precisa de área mínima para resistir ao aquecimento global; trabalho compilou estudos a pedido do Banco Mundial
GIULIANA MIRANDA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Se o desmatamento da Amazônia -que já consumiu 17% da
floresta- atingir a marca de
20%, o aquecimento global se
encarregará de destruir o que
sobrou, afirma uma compilação de estudos sobre a região
feita pelo Banco Mundial.
As conclusões do documento, que reúne vários estudos
publicados nos últimos anos,
levam em conta simulações do
comportamento da Amazônia
em diferentes cenários projetados pelo IPCC (painel do clima
da ONU). Os cientistas identificaram que o efeito conjunto de
incêndios, desmatamento e
mudança climática empurra a
floresta para um estado onde
ela perde sua "massa crítica"
para sobrevivência.
Como as árvores tropicais
são importantes para regulação
do clima e do regime de chuvas,
forma-se uma espécie de efeito
dominó que afeta todo o bioma.
No pior cenário, a floresta da
Amazônia encolhe 44% até
2025. O volume das precipitações tende a aumentar durante
o período de chuvas e diminuir
nos de seca, afetando a vazão
dos rios de toda a bacia.
O leste da Amazônia -que é
contíguo ao Nordeste- terá as
consequências mais graves. O
período de seca aumentará e o
clima mais quente contribuirá
para o avanço da vegetação típica do semiárido. Até 2025, a região poderá perder 74% de sua
atual área de floresta.
Já no sul da Amazônia, pelo
menos 30% dessa área de floresta tropical terá sido substituída por cerrado até 2025.
Assim como a caatinga, esse
tipo de vegetação tem árvores
menores, que absorvem menos
gás carbônico da atmosfera.
Mais carbono no ar, então, contribui para o aquecimento global, expandindo os impactos
para o resto do país. No Nordeste, por exemplo, as estiagens devem se tornar ainda
mais prolongadas, prejudicando a agricultura e a geração de
energia elétrica na região.
"É a primeira vez que um trabalho avalia esses abalos [aquecimento global, incêndios e
desmatamento] conjuntamente. A situação é grave. Precisamos tomar medidas imediatas", avalia Thomas Lovejoy,
presidente do Comitê Científico Consultivo Independente do
relatório do Banco Mundial.
Embora indique que parte
das perdas na Amazônia sejam
inevitáveis, o documento propõe ações de reflorestamento
como solução. Estudioso da região há mais de 30 anos, Lovejoy afirma que elas são "imprescindíveis" e devem começar pela Amazônia oriental.
Para Carlos Nobre, do Inpe
(Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o reflorestamento é importante, mas insuficiente. "Não adianta nada se
os países não diminuírem as
emissões de gases-estufa", diz.
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