São Paulo, sábado, 29 de janeiro de 2011

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Brasileiros criam primeira vacina vegetal

Parceria da Fiocruz com os EUA fará imunizante para febre amarela substituindo uso do vírus por uma planta

Nova vacina terá menos efeitos colaterais que a atual; primeiros testes com seres humanos serão em até três anos

GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO

Uma parceria do Bio-Manguinhos (Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos), da Fiocruz, no Rio de Janeiro, com duas instituições americanas permitirá ao Brasil criar a primeira vacina do mundo a base de uma planta.
A técnica elimina a necessidade de usar vírus atenuados, o que torna o processo mais simples e seguro. O projeto inicial é um imunizante contra a febre amarela -doença grave que, em áreas urbanas, é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo da dengue.
Com investimento de US$ 6 milhões (cerca de R$ 10,8 milhões) da Fiocruz, o acordo, firmado com o Centro Fraunhofer para Biotecnologia Molecular e iBio Inc. prevê que os testes em humanos comecem em até três anos.
Embora a vacina atual -com tecnologia 100% brasileira- seja eficaz e barata, ela tem inconvenientes.
A Fiocruz é líder mundial na fabricação da vacina, produzindo entre 30 e 40 milhões de doses por ano.
Os cientistas cultivam uma estirpe atenuada do vírus em ovos de galinha embrionados. Esses, claro, são bem diferentes dos usados na cozinha: passam por um processo industrial que certifica que estão livres de doenças, entre outras coisas.
Nesse ambiente, o vírus se multiplica e produz o antígeno -a mais importante "matéria-prima" da vacina.
Esse método pode causar alergias e, em casos raros, infecções graves.
Pessoas alérgicas a ovo, por exemplo, ficam atualmente sem alternativa de imunização contra a doença.

NOVIDADE
Com a nova vacina, em vez de usar o vírus inteiro, os pesquisadores reproduzem apenas sua proteína que causa maior resposta imunológica no organismo.
Para isso, eles isolam o gene responsável pela produção dela e o colocam na folha da Nicotiana benthamiana, um tipo de tabaco.
Conforme a planta vai crescendo, ela vai produzindo os antígenos.
"As plantas viram minifábricas da proteína viral que será usada na vacina", explica Ricardo Galler, pesquisador-chefe do projeto.
"Nós usamos hoje uma técnica de quase 70 anos atrás. Com o novo método, daremos um salto tecnológico impressionante. Estamos bastante otimistas", completa Ricardo Galler.

BENEFÍCIOS
Além da redução dos efeitos colaterais em relação à vacina tradicional, a imunização feita à base da planta pode contribuir para o desenvolvimento tecnológico de toda a cadeia produtiva de vacinas, diz Galler.
"Por causa do nosso acordo, ainda não podemos dar detalhes. Mas a técnica usada nas plantas é algo único no mundo", diz.
O diferencial, segundo ele, é que as plantas usadas não são transgênicas.
"Do jeito que nós fazemos, as mudanças não são incorporadas ao DNA da Nicotiana benthamiana. Os descendentes das plantas não têm o gene da proteína do vírus. É preciso repetir o processo", explica ele.
O método de cultivo também deve permitir economia. Como as plantas são criadas em hidroponia -que substitui o solo por uma substância nutritiva especial- o cultivo pode ser feito em áreas relativamente pequenas, o que simplifica e reduz seu custo.


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