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Dino não oprimia mamífero, diz estudo
Paleontólogo afirma que explosão de diversidade dos animais da classe dos humanos ocorreu antes do que se pensava
Nova análise mostra que
mamíferos foram capazes
de se diversificar mesmo
enquanto os dinossauros
ainda dominavam a Terra
DA REDAÇÃO
Muita gente já ouviu essa história: o impacto de asteróides
que eliminou os dinossauros há
65 milhões de anos permitiu
que os mamíferos -até então
animais pequenos, "oprimidos" pelos grandes répteis-
pudessem se diversificar e se
espalhar pelo mundo. Seria
mesmo uma bela história. Se
fosse verdade.
Mas um estudo publicado
hoje sugere que a tal opressão
ecológica dos dinossauros sobre os mamíferos simplesmente não existiu. A classe de animais peludos e de sangue quente à qual pertencem os seres
humanos experimentou uma
grande explosão evolutiva não
há 65 milhões, mas há 93 milhões de anos. Naquela época,
dinossauros reinavam absolutos sobre a Terra. E, ainda assim, houve espaço para os mamíferos se diversificarem.
O estudo sai hoje na revista
"Nature", desafiando a noção
de que mamíferos se aproveitaram dos nichos ecológicos deixados vagos pelos dinos após a
megaextinção, numa bomba
evolutiva de "pavio curto". Os
dados indicam que a explosão
que daria origem aos ancestrais
das 4.554 espécies conhecidas
de mamíferos modernos aconteceu, numa bomba de "pavio
longo", com duas grandes detonações. A primeira há 93 milhões de anos, a última há cerca
de 50 milhões de anos.
A nova hipótese pode exigir
uma revisão nos livros didáticos. "Isso é ciência de verdade.
A argumentação é sólida, os dados são sólidos", disse o paleontólogo Reinaldo José Bertini,
da Unesp de Rio Claro. "Todo
mundo tinha esse faro, mas
ninguém tinha evidências ainda porque os fósseis daquele
período são muito raros."
Os próprios autores do estudo dizem não ver "nenhum
conflito" com os dados existentes. "A explosão de 65 milhões
de anos atrás aconteceu, mas
não entre os grupos de mamíferos nos quais a maioria das pessoas pensa", afirma o canadense Olaf Bininda-Emonds, da
Universidade de Jena, Alemanha, autor principal do estudo.
Os mamíferos que se aproveitaram do fim dos dinos foram todos grupos que hoje estão extintos, como os chamados multituberculados, animais parecidos com roedores e
de dentes esquisitos.
O trabalho de Bininda e seus
colegas reabilita os mamíferos
do Cretáceo (último período da
era dos dinossauros), que costumam ser pintados em livros e
documentários de TV como bichos minúsculos e tímidos, todos parecidos com um rato.
Indícios de que essa imagem
era falsa têm surgido aqui e ali.
Em 2005, por exemplo, chineses apresentaram fósseis de um
mamífero do Cretáceo que devorava dinossauros, o Repenomamus. Estudos de DNA também apontam para uma origem
muito antiga dos placentários,
divisão à qual pertence a maioria dos mamíferos modernos.
"Mas muitos paleontólogos
são céticos sobre isso", por falta
de evidência fóssil direta, diz
Bininda. Seu estudo diz que a
primeira diversificação de placentários foi entre 93 milhões e
85 milhões de anos atrás.
Mas, se a tese da liberação
ecológica pela extinção dos dinos não causou os surtos de diversificação dos mamíferos, o
que o fez? "Ambas as radiações
coincidem com episódios de
mudança climática mas, ao
mesmo tempo em que é tentador inferir daí uma causa direta, não há nenhuma evidência
material disso por enquanto."
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