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ESPAÇO
Volume de gelo detectado por sonda americana a menos de um metro sob o solo recobriria o planeta, se derretido
Marte possui água abundante e acessível
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Finalmente a Nasa pôs um ponto final em um dos mais duradouros mistérios de Marte, o destino dos oceanos que uma vez existiram em sua superfície. A resposta
é: para baixo. Há gelo suficiente no subsolo marciano para recobrir toda a superfície do planeta com água, se derretido.
A informação veio da órbita marciana, diretamente da sonda
Mars Odyssey, a nova preciosidade da agência espacial dos EUA.
Resultados preliminares obtidos pela sonda já haviam sido divulgados pela Nasa no início de março, mas só agora surgem os primeiros estudos científicos.
A idéia inicial era divulgá-los na quinta-feira, coincidindo com
uma entrevista coletiva em Washington e com sua publicação on-line pela revista científica "Science" (www.sciencexpress.org),
mas a divulgação acabou sendo antecipada depois de um bafafá
iniciado pela imprensa britânica.
Noção antiga
A idéia de que deve haver um bocado de água em Marte já é antiga e vem sendo confirmada seguidamente por observações.
Formações no solo observadas primeiro pelas sondas Viking, em
1976, e depois pela Mars Global Surveyor, em 1997, indicavam
que correntes líquidas deviam ter banhado boa parte da superfície
bilhões de anos atrás.
Em 1999, a mesma Global Surveyor demonstrou que boa parte da capa de gelo no pólo norte marciano é composta por água congelada. No ano passado, pesquisadores reportaram várias evidências de presença de água em estado líquido relativamente recente (alguns milhões de anos de idade) no solo marciano.
Mas agora é diferente. "Pela primeira vez temos um mapa detalhado da localização da água no subsolo de Marte. E estamos de fato vendo a água, não seus traços", diz Jeffrey Plaut, um dos cientistas que trabalham na missão Odyssey no JPL (Laboratório de Propulsão a Jato), da Nasa.
O mapeamento mostra que a água se concentra mais nas proximidades dos pólos norte e sul,
mas também marca alguma presença em outras regiões do planeta (veja quadro à direita).
Presença de água -ou não
O que os instrumentos da Odyssey são capazes de detectar não é a
água em si, mas um de seus componentes -o hidrogênio. Em tese, esse hidrogênio poderia fazer
parte de outro composto, que não
a água, mas ninguém acredita
nessa hipótese. "Não podemos
afirmar com certeza, mas é difícil
imaginar outra forma de explicar
as medições", diz Plaut. "Hidrogênio puro é instável, e a concentração que observamos é muito
alta para ser outra coisa que não
água. Além do mais, os lugares
em que o detectamos são compatíveis com os que, nos modelos,
permitiriam a presença de gelo de
uma maneira estável."
Os instrumentos têm uma limitação, no entanto. Só são capazes
de detectar hidrogênio a até um
metro abaixo da superfície. Plaut
afirma que, somada, a água que os
pesquisadores da Nasa detectaram poderia recobrir Marte com
um oceano de cerca de dez centímetros de profundidade.
Entretanto, se a concentração
de gelo no solo a até um metro se
repetir a profundidades maiores,
seu volume seria o suficiente para
inundar a superfície marciana
com 0,5 km a 1,5 km de água,
aponta um dos três estudos sobre
o assunto na "Science".
Fácil acesso
"O mais importante", diz Plaut,
"é que a água parece estar facilmente acessível e sabemos onde
encontrá-la." Essa informação
pode teleguiar as próximas missões ao planeta vermelho de modo a otimizar os resultados.
Acredita-se, por exemplo, que a
água seja o precursor fundamental para vida. Se alguém deseja
procurar por bactérias marcianas
e não estiver satisfeito com meteoritos velhos caídos ao acaso na
Terra, poderia muito bem enviar
uma sonda para escavar uns poucos centímetros no solo marciano
e analisar uma amostra de gelo.
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