São Paulo, quarta-feira, 29 de maio de 2002

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BIOTECNOLOGIA

Objetivo é ter clone do animal em dez anos

Australianos conseguem replicar os genes de um mamífero extinto

France Presse
Exemplar empalhado de tigre-da-tasmânia é exibido no Museu Australiano, na cidade de Sydney


DA REUTERS

Cientistas da Austrália anunciaram ontem um grande avanço nos esforços para clonar o tigre-da-tasmânia, um mamífero marsupial extinto em 1936 pela perseguição humana. De acordo com eles, foi possível replicar alguns dos genes do animal usando DNA extraído de filhotes machos e fêmeas preservados em álcool.
Os cientistas do Museu Australiano, em Sydney, disseram que poderão clonar um tigre-da-tasmânia em dez anos, se conseguirem sucesso em reconstruir grandes quantidades de todos os genes do animal e em sequenciar seções do genoma para criar um registro de todo o seu DNA.
"Agora nós estamos mais à frente do que qualquer outro projeto que já tentou algo remotamente semelhante usando DNA [de animal] extinto", disse Mike Archer, diretor do Museu Australiano, numa entrevista coletiva.
"O que antes não era nada além de um sonho impossível acaba de dar mais um passo gigantesco para se tornar uma realidade biológica", afirmou, acrescentando que o objetivo final é clonar uma população reprodutivamente viável de tigres-da-tasmânia.
A criatura, também chamada de tilacino (Thylacinus cynocephalus), era um marsupial (mamífero que leva os filhotes numa bolsa, como os cangurus). Carnívoro de aparência semelhante à dos cães, ele vivia na Tasmânia, uma ilha ao sul da Austrália. O apelido de tigre veio das listras negras que cobriam o pêlo castanho do bicho, que originalmente viveu na Austrália e na Nova Guiné, mas que, em algum momento entre 2.000 e 200 anos atrás, teve de se refugiar na Tasmânia.
No século 19, fazendeiros iniciaram uma perseguição intensiva ao animal, acusando-o de destruir rebanhos de ovelhas. O último exemplar conhecido morreu num zoológico em 1936 e o tigre-da-tasmânia foi declarado oficialmente extinto em 1986.
O projeto para recuperar a espécie começou em 1999, quando os cientistas extraíram DNA de uma fêmea preservada em álcool. Em 2001, o material genético foi obtido de dois outros animais preservados -os tecidos que forneceram esse DNA foram ossos, dentes, medula óssea e músculo. Archer disse que o DNA deu aos cientistas o cromossomo X do tigre-da-tasmânia, enquanto as outras duas amostras foram fontes do cromossomo Y (que determina o sexo masculino)
Em maio deste ano, os pesquisadores conseguiram replicar esse DNA usando PCR (sigla em inglês para reação em cadeia da polimerase, enzima que induz as moléculas de DNA a se multiplicarem). "O DNA supostamente morto, na verdade, reage como o DNA vivo", diz Archer. "Ele funciona. Isso torna possível a clonagem de moléculas".
Se uma clonagem se tornar possível, usando o demônio-da-tasmânia (outro marsupial carnívoro) como mãe de aluguel, a idéia é criar uma população com diversidade genética. "O que nós queremos é recolocar esse animal no meio selvagem e para isso nós precisamos de uma população viável, capaz de se reproduzir", afirma Archer.



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