São Paulo, sexta-feira, 29 de junho de 2007

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"Não há nenhuma questão ética envolvida"

Danilo Verpa/Folha Imagem
O diretor do Instituto de Física da USP, Alejandro Szanto


DA REPORTAGEM LOCAL

O diretor do Instituto de Física da USP, Alejandro Szanto de Toledo, afirma que a controvérsia sobre as acusações de plágio poderia ter sido resolvida de maneira interna, mas está sendo usada politicamente contra ele por outros colegas.
"O que existe é um grupo de pessoas que há muito tempo perde eleições aqui, porque são excessivamente radicais", disse Szanto à Folha, "Eles tentam dar um golpe, não sei..."
Entre os físicos que se contrapõem à gestão de Szanto no IF, boa parte é composta de professores titulares, graduação máxima da carreira. Cientistas do Departamento de Física Matemática nessa condição, por exemplo, reivindicam mais espaço para pesquisa e atividades de pós-graduação no instituto, que nos últimos anos perdeu espaço para atividades mais ligadas ao ensino, dizem.
Szanto apresentou a todos os docentes uma defesa ontem, dizendo que o artigo questionado na "Physical Review C" não é plágio. "O professor Hussein me acusou de plágio sem perícia", disse. "Os artigos são referenciados [citados na bibliografia], talvez não teve aspas." A referência aos trabalhos de Hussein, de fato, aparece no final de um dos artigos, mas há grandes trechos no trabalho questionado com frases iguais, sem nenhuma aspa.
Há trechos copiados ainda de um terceiro artigo, não citado. "O referenciamento foi mal feito, eu reconheço, mas foi uma questão editorial, e não uma questão ética" diz Szanto. "Houve um erro de citação, mas a parte que ele diz que não foi citada está em outro artigo nosso, onde o autor dessa parte que não foi citada já constava do artigo anterior."
Szanto, além disso, não reconhece ter assinado dois dos artigos de seu grupo colocados em dúvida. "Meu nome foi incluído sem meu conhecimento. Eu mostrei os documentos que atestam que a pessoa que mandou [o artigo para publicação], mandou sem o meu conhecimento", afirma.
O físico afirma ter apresentado seu álibi na reunião da congregação de professores do IF ontem. "Tenho um documento registrado em cartório",diz.
Um outro artigo questionado ao qual a Folha teve acesso, publicado na "Physics Letters B", pode se encaixar em um caso de submissão múltipla -envio dos resultados de um mesmo trabalho a mais de uma publicação científica. A prática é considerada antiética, mas Szanto diz que seu trabalho não se encaixa nesse caso.
Segundo o professor, uma série de gráficos que aparecem nesse estudo -todos copiados de outros dois trabalhos de seu próprio grupo- integram o trabalho novo apenas de maneira complementar.
"Nessas publicações, você explica uma teoria e tem de descrevê-la, mas isso não é a essência do trabalho. É simplesmente uma explicação para "completeza" do trabalho", afirma o físico. "Isso é coisa de quem leu o estudo olhando só as figuras."
Boa parte da defesa de Szanto, apresentada ontem, porém, não se referia a seu trabalho. Foi a exposição de um artigo de Hussein, colega que o acusa de plágio. Um documento elaborado pelo diretor aponta partes do estudo do professor iraquiano e de outros autores, onde há trechos com coincidência literal. A Folha ainda não obteve os artigos originais.
Confrontado, Hussein disse ontem que não tinha como provar na hora que não houve plágio em seu trabalho. "Eu não sabia disso", afirmou. "Se soubesse, teria tomado providências na mesma hora."
Em conversas com físicos acusados e acusadores, a Folha obteve nesta semana a referência de dezessete artigos técnicos de física nuclear teórica e experimental, entre trabalhos "copiadores" e "copiados".
Szanto também nega ter tentado abafar a divulgação do caso para a reitora da universidade, Suely Vilela. "Ao mesmo tempo em que ela me disse que tinha recebido uma denúncia, eu falei: vá até as últimas conseqüências." (RG)


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