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"Não há nenhuma questão ética envolvida"
Danilo Verpa/Folha Imagem
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O diretor do Instituto de Física da USP, Alejandro Szanto |
DA REPORTAGEM LOCAL
O diretor do Instituto de Física da USP, Alejandro Szanto
de Toledo, afirma que a controvérsia sobre as acusações de
plágio poderia ter sido resolvida de maneira interna, mas está
sendo usada politicamente
contra ele por outros colegas.
"O que existe é um grupo de
pessoas que há muito tempo
perde eleições aqui, porque são
excessivamente radicais", disse
Szanto à Folha, "Eles tentam
dar um golpe, não sei..."
Entre os físicos que se contrapõem à gestão de Szanto no
IF, boa parte é composta de
professores titulares, graduação máxima da carreira. Cientistas do Departamento de Física Matemática nessa condição, por exemplo, reivindicam
mais espaço para pesquisa e
atividades de pós-graduação no
instituto, que nos últimos anos
perdeu espaço para atividades
mais ligadas ao ensino, dizem.
Szanto apresentou a todos os
docentes uma defesa ontem,
dizendo que o artigo questionado na "Physical Review C"
não é plágio. "O professor Hussein me acusou de plágio sem
perícia", disse. "Os artigos são
referenciados [citados na bibliografia], talvez não teve aspas." A referência aos trabalhos
de Hussein, de fato, aparece no
final de um dos artigos, mas há
grandes trechos no trabalho
questionado com frases iguais,
sem nenhuma aspa.
Há trechos copiados ainda de
um terceiro artigo, não citado.
"O referenciamento foi mal feito, eu reconheço, mas foi uma
questão editorial, e não uma
questão ética" diz Szanto.
"Houve um erro de citação,
mas a parte que ele diz que não
foi citada está em outro artigo
nosso, onde o autor dessa parte
que não foi citada já constava
do artigo anterior."
Szanto, além disso, não reconhece ter assinado dois dos artigos de seu grupo colocados
em dúvida. "Meu nome foi incluído sem meu conhecimento.
Eu mostrei os documentos que
atestam que a pessoa que mandou [o artigo para publicação],
mandou sem o meu conhecimento", afirma.
O físico afirma ter apresentado seu álibi na reunião da congregação de professores do IF
ontem. "Tenho um documento
registrado em cartório",diz.
Um outro artigo questionado
ao qual a Folha teve acesso,
publicado na "Physics Letters
B", pode se encaixar em um caso de submissão múltipla -envio dos resultados de um mesmo trabalho a mais de uma publicação científica. A prática é
considerada antiética, mas
Szanto diz que seu trabalho
não se encaixa nesse caso.
Segundo o professor, uma série de gráficos que aparecem
nesse estudo -todos copiados
de outros dois trabalhos de seu
próprio grupo- integram o
trabalho novo apenas de maneira complementar.
"Nessas publicações, você
explica uma teoria e tem de
descrevê-la, mas isso não é a
essência do trabalho. É simplesmente uma explicação para "completeza" do trabalho",
afirma o físico. "Isso é coisa de
quem leu o estudo olhando só
as figuras."
Boa parte da defesa de Szanto, apresentada ontem, porém,
não se referia a seu trabalho.
Foi a exposição de um artigo de
Hussein, colega que o acusa de
plágio. Um documento elaborado pelo diretor aponta partes
do estudo do professor iraquiano e de outros autores, onde há
trechos com coincidência literal. A Folha ainda não obteve
os artigos originais.
Confrontado, Hussein disse
ontem que não tinha como
provar na hora que não houve
plágio em seu trabalho. "Eu
não sabia disso", afirmou. "Se
soubesse, teria tomado providências na mesma hora."
Em conversas com físicos
acusados e acusadores, a Folha
obteve nesta semana a referência de dezessete artigos técnicos de física nuclear teórica e
experimental, entre trabalhos
"copiadores" e "copiados".
Szanto também nega ter tentado abafar a divulgação do caso para a reitora da universidade, Suely Vilela. "Ao mesmo
tempo em que ela me disse que
tinha recebido uma denúncia,
eu falei: vá até as últimas conseqüências."
(RG)
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