São Paulo, sábado, 29 de julho de 2006

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Brasil reduz contribuição e segue na ISS

Para manter direito a pesquisa, país fabricará peças mais simples do que pretendia, cortando gastos para US$ 10 milhões

Investimento original de agência brasileira era de US$ 120 milhões; possibilidade de enviar outro astronauta ainda não está descartada


MARIANA TAMARI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A AEB (Agência Espacial Brasileira) afirmou ontem ter recebido sinal verde da Nasa para reduzir as atribuições do Brasil no programa da ISS (Estação Espacial Internacional) de US$ 120 milhões, definidos no acordo de cooperação inicial, para no máximo US$ 10 milhões, o que garante ao país a possibilidade de permanecer como parceiro do projeto. A decisão foi tomada ontem em uma teleconferência entre membros da Nasa e da AEB.
Há cerca de seis anos, o Brasil comprometeu-se em fornecer US$ 120 milhões em peças e equipamentos para a ISS. Em contrapartida os brasileiros seriam sócios no programa da estação, poderiam fazer experimentos na ISS e treinariam um astronauta para voar em um ônibus espacial. Mas logo ficou claro que o Brasil não teria condições de cumprir com sua parte do acordo.
O prazo de entrega dos equipamentos brasileiros já havia expirado, mas o que manteve o país no programa foi o acidente com o ônibus espacial Columbia, que matou sete astronautas em 2003 e colocou as naves da Nasa "na garagem" até que se ampliasse sua segurança.
De acordo com Sérgio Gaudenzi, presidente da AEB, os projetos ligados à ISS caminhavam a passos lentos até o êxito da viagem do ônibus espacial Discovery, que retornou à Terra neste mês. Segundo ele, mesmo que os equipamentos tivessem sido entregues na data prevista, não teriam sido utilizados em nenhuma missão.
"Reduzimos substancialmente nossa participação no projeto, mas eles [da Nasa] já entenderam", afirma Gaudenzi. "Nós continuamos com a possibilidade de fazer experimentos de microgravidade na ISS, continuamos como sócios e, quem sabe, podemos até mandar mais um astronauta para o espaço."
A atribuição brasileira na fabricação das peças agora vai diminuir em complexidade, mas aumentar em quantidade, pois as peças são mais baratas.
"Quando saiu a primeira lista de peças, logo depois foi visto que era impossível fazê-las no Brasil. Teríamos que importar boa parte dos componentes eletrônicos", conta Raimundo Mussi, assessor técnico-científico da AEB.
O Brasil vai fornecer suportes em alumínio para os mesmos equipamentos eletrônicos que produziria antes. Para Mussi, a participação é boa para a indústria brasileira. "A vantagem de fazermos as peças no Brasil é que isso qualifica a indústria para produção de material para embarque em vôos tripulados", diz. "Podemos entrar em licitações da Nasa e outras agências no futuro."

Base de Alcântara
Ao mesmo tempo em que a AEB garante a participação brasileira na Estação Espacial Internacaional, enfrenta, dentro do Brasil, a suspensão cautelar da licitação referente à execução do plano diretor do Centro de Lançamento de Alcântara (MA).
Uma auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União) divulgada ontem apontou que há um sobrepreço de R$ 122 milhões nas contas apresentadas pela AEB. Além disso, o relatório apresentado não é claro quanto à exigência de licenças ambientais.
"O que fizemos foi lançar a licitação antes de ter as licenças ambientais do Ibama e temos certeza que serão aprovadas", disse Gaudenzi. "Aumentamos o tempo de execução do projeto de três para cinco anos. Isso aumenta os custos fixos, como com laboratórios, por exemplo. Essa é a única diferença", justifica ele.


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