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FOMENTO
Crise no CNPq afeta custeio de pesquisas
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Com equipamentos já pagos
presos na alfândega por falta de
verba para retirá-los, Ricardo Ribeiro dos Santos, da Fiocruz
(Fundação Oswaldo Cruz) da Bahia, desabafa: "Nossa rede está se
esfarelando". Santos é um dos
cientistas afetados pela crise no
CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Desde abril, a entidade
não repassa quase recursos para o
custeio de pesquisas.
O CNPq, principal agência de
fomento à pesquisa do país, teve
45% de seu orçamento previsto
para este ano cortado pelo governo federal. Embora o pagamento
de bolsas de iniciação científica
(para estudantes universitários) e
de mestrado e doutorado continue, o apoio a grupos de pesquisa
está quase paralisado.
"A situação é de pré-falência",
diz José Roberto Leite, presidente
da SBF (Sociedade Brasileira de
Física) e pesquisador da USP. Leite e seus colegas apontam como
principais problemas os cortes no
Pronex (Programa de Apoio a
Núcleos de Excelência, que
abrange 206 grupos no país) e nos
Institutos do Milênio (15 redes de
pesquisa de âmbito nacional, com
dezenas de grupos cada uma).
Além disso, o chamado fluxo
contínuo -usado por grupos individuais para cobrir despesas como viagens de intercâmbio ao exterior, realização de eventos científicos ou bolsas de pós-doutoramento- também foi interrompido, de acordo com Leite.
"Estamos a zero", diz o pesquisador. "É uma situação que nunca
tínhamos vivenciado desde a fundação do CNPq, com a impossibilidade total de que ele cumpra
suas finalidades mais básicas",
afirma. Os líderes de 98 grupos de
pesquisa ligados ao Pronex assinaram nesta semana uma carta
aberta ao presidente da República, pedindo providências.
Glaci Zancan, presidente da
SBPC (Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência), chegou a
discutir o problema com o presidente Fernando Henrique Cardoso no dia 9 deste mês. "Ele disse
que faria o possível", afirmou
Zancan.
"Estão tentando manter o sistema hibernando, mas mesmo para
hibernar é preciso mais do que está sendo liberado agora", diz a
pesquisadora, para quem cerca de
R$ 120 milhões seriam necessários imediatamente para evitar
um colapso no futuro próximo.
Para Leite, o que falta é sensibilidade no Ministério do Planejamento, responsável pelos repasses ao Ministério da Ciência e
Tecnologia e ao CNPq: "Eu sou
testemunha dos esforços do
CNPq para que a situação volte ao
normal", afirma.
O presidente do CNPq, Esper
Cavalheiro, afirmou que está
"acompanhando o movimento
da comunidade científica" e procurando viabilizar a liberação dos
recursos.
Enquanto isso, pesquisadores do Pronex se vêem sem opções.
"Nenhuma liberação correspondente a este ano foi feita", diz Jerson Silva, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Colaborou a Sucursal de Brasília
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