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Floresta volta em 20% da área derrubada
Inpe faz primeiro cálculo de regeneração na Amazônia e estima em 132 mil km2 o total de matas secundárias em 2006
Cálculo foi detalhado para
MT, PA e AP; após 5 anos,
metade da vegetação
recuperada volta a sofrer
corte raso, diz pesquisador
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DE BELÉM
O primeiro mapa da regeneração florestal na Amazônia
traz uma notícia boa e outra
má. A boa é que 20% de tudo o
que foi desmatado na região entre 1988 e 2007 se recuperou,
formando matas secundárias
(capoeiras). A má é que essas
matas secundárias têm meia-vida curta: em menos de cinco
anos metade da área regenerada volta a virar lavoura e pasto.
Assim, dos estimados 132 mil
km2 de florestas secundárias
que existiam na região em
2006, 60 mil terão sido reconvertidos em 2011. Segundo o
pesquisador do Inpe (Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais) que elaborou a estimativa, entender a dinâmica de perda e ganho dessas capoeiras é
crucial para saber quais são as
reais emissões de CO2 do Brasil
por desmatamento: afinal, enquanto se regenera, a floresta
sequestra carbono do ar. O
atual inventário brasileiro de
emissões considera uma regeneração de 12%.
Os cálculos sobre a regeneração foram feitos por Claudio
Almeida, diretor do Centro Regional da Amazônia do Inpe,
inaugurado ontem em Belém.
São estimativas ainda preliminares, feitas com base em 26
imagens de satélite (cenas) do
Prodes, o sistema de sensoriamento remoto que calcula a taxa oficial de desmatamento.
"Vamos concluir até novembro um levantamento de porta
a porta, com quanto entrou e
quanto saiu [se perdeu] de vegetação secundária em 2008",
disse Almeida à Folha.
O dado deverá vir acompanhado de uma estimativa de
quanto carbono essas novas vegetações conseguem absorver,
em comparação com o que é
emitido pelo corte raso.
Tapete amarelo
O Prodes mapeia desde o fim
dos anos 1980 a perda de floresta na Amazônia, mas ninguém
sabe direito o que acontece
com a vegetação depois. "A gente não olha mais para a cena depois que ela entra no tapete
amarelo", diz Almeida. "Tapete
amarelo" é como os técnicos do
Inpe chamam as áreas desmatadas, marcadas nos mapas do
Prodes com essa cor.
O primeiro mergulho no tapete amarelo tem revelado um
ciclo de abandono e retomada
das pastagens. "Num dado momento, o proprietário fica descapitalizado e abandona o pasto. Dali a três, quatro anos, ele
vende a área e o pasto é limpo
de novo, ou ele mesmo refaz a
pastagem", afirma o cientista.
Ontem Almeida divulgou os
dados de regeneração para
Amapá, Mato Grosso e Pará.
Mato Grosso detém o pior índice. Cerca de 11% dos 201,7 mil
km2 derrubados no Estado voltaram a ter algum tipo de floresta. No Pará, foram 22%, dos
233,4 mil km2 desmatados. No
Amapá, um quarto (ou 25%)
dos 2.440,3 km 2 destruídos pelo homem se regenerou.
Segundo Paulo Barreto, do
Imazon (Instituto do Homem e
Meio Ambiente da Amazônia),
os números são positivos. "Se
você considerar que as áreas
foram desmatadas para serem
usadas, é bastante coisa", diz.
Segundo ele, as diferenças
regionais se devem aos fatores
econômicos e naturais que limitaram o desenvolvimento da
pecuária ou da agricultura.
Ainda não se sabe o estágio
dessas florestas secundárias,
nem há por enquanto a diferenciação entre reflorestamento e crescimento natural.
As informações devem ser
captadas ao longo do levantamento, que se tornará anual.
Com ele, será possível aferir,
além da regeneração florestal,
quais áreas se tornaram pastos
e quais são lavouras. Hoje, o dado é compilado pelo IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mas com
base só em declarações dos fazendeiros. É tido como inexato.
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