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CRONOBIOLOGIA
Estudo publicado nesta semana ajuda a explicar por que número de ataques cardíacos dobra pela manhã
Ciclo biológico influencia infarto matutino
CRISTINA AMORIM
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Um novo estudo fornece evidências consistentes de que um
fator inerente ao corpo aumenta o
número de acidentes cardiovasculares de manhã: o relógio biológico. A pesquisa, publicada na revista da Academia Nacional de
Ciências dos EUA (www.pnas.org), confirma uma relação que já
era apontada tanto por cardiologistas quanto por cronobiólogos.
Para comprovar a hipótese, a
equipe de cientistas americanos
retirou algumas pessoas de seu
cotidiano e observou variações
cardíacas em ambientes neutros,
longe das discussões com a mulher ou de congestionamentos.
Cinco voluntários saudáveis foram submetidos a um procedimento conhecido como "rotina
constante", mantidos isolados e
seguindo um ciclo de vigília e sono de 28h. Os movimentos eram
monitorados e máximo esforço
físico se resumia a caminhar um
pouco no quarto onde estavam
confinados. "A manobra permite
dissociar os efeitos do sistema de
temporização dos efeitos dos estados comportamentais", explica
o cronobiólogo Luiz Menna-Barreto, da USP.
Ao fim de sete ciclos, os participantes mostraram variações de
até 10% nos batimentos cardíacos
entre as 9h e as 11h.
O relógio biológico é também
conhecido como ritmo circadiano (do latim, "circa", que significa
em torno de, e "dies", dia) e define
as variações biológicas que ocorrem nos seres vivos ao longo de
24h, como o sono. Ele é baseado
em uma complexa e ainda pouco
compreendida interação entre cérebro e corpo.
Segundo um estudo realizado
em abril deste ano por uma associação médica na Inglaterra, o número de chamadas por ambulâncias para atender infartos dobra
entre 8h e 10h quando comparado
a qualquer outro período do dia.
"O Brasil não tem dados de quanto o atendimento varia de acordo
com o horário do dia, mas é possível ver em unidades isoladas [de
pronto-socorro] que elas enchem
de manhã", diz o diretor-geral do
Incor, José Antonio Ramirez.
"O simples abrir dos olhos provoca uma reação do corpo, como
a liberação de adrenalina, que tira
a pessoa do sono e a coloca em
uma situação de vigília", explica.
Além disso, outras atividades matutinas, como a prática de exercícios, aumentam o risco.
Para Menna-Barreto, a análise
do ritmo biológico deve ser usada
como ferramenta na avaliação da
condição clínica dos pacientes.
Ramirez afirma que incluir o estudo de ciclos biológicos no prognóstico cardíaco seria complicado
no dia-a-dia do médico.
Os pesquisadores não aprofundaram a relação de causa e efeito
entre o pico provocado pelo relógio biológico e os ataques cardíacos, mas acreditam que o trabalho
deve ser levado em conta no momento de avaliar os perigos que
determinados pacientes correm,
especialmente aqueles com histórico de problema cardiovascular.
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