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MEDICINA
Experimento com camundongos consegue reunir dois ingredientes da planta que matam só as células cancerosas
Israel cria "míssil" de alho contra tumores
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Juntando os princípios por trás
da guerra química e da bomba inteligente, cientistas do Instituto
Weizmann, de Israel, conseguiram derrotar tumores usando
uma substância tirada do alho.
A alicina é a substância contendo enxofre que dá o aroma típico
do alho. Ela é um meio de defesa
da planta que se forma apenas
quando ela está sendo atacada por
um parasita (ou quando um cozinheiro esmaga um dente de alho),
constituindo uma forma de guerra química natural.
A planta contém duas substâncias, aliinase e aliína, armazenadas separadamente. Em contato,
quando as membranas que as isolam são rompidas, formam a alicina. É o mesmo princípio das
chamadas armas químicas binárias, nas quais um produto letal se
forma a partir de dois outros isoladamente inertes.
Os cientistas já conheciam os
efeitos tóxicos da alicina, capaz de
matar micróbios e até células normais. Felizmente para quem come, a alicina se decompõe rapidamente em substâncias inofensivas. Mas essa mesma propriedade
impedia o desenvolvimento de algum remédio com base nela, apesar de a alicina ter sido descoberta
em 1944 e seus efeitos serem conhecidos há 50 anos.
Os pesquisadores israelenses
procuraram fazer o mesmo que a
planta: juntar aliinase com aliína
para formar a alicina nas células
cancerosas e com isso matá-las. A
precisão teria de ser "cirúrgica",
como -teoricamente- são as
armas ditas inteligentes. O meio
encontrado foi construir um
"míssil" capaz de levar a aliinase
até a célula a ser atacada e, depois,
injetar a aliína. Ao se encontrarem na superfície da célula, formariam a matadora alicina.
O míssil é um anticorpo projetado para reconhecer apenas um
alvo, receptores que ficam superfície da célula do tumor. Esses receptores são encontrados só em
células cancerosas, por isso a
combinação aliinase-aliína nunca
se forma em outro ponto do organismo.
O estudo foi feito por Aharon
Rabinkov, Talia Miron, Marina
Mironchick, David Mirelman e
Meir Wilchek. Foi publicado na
revista especializada "Molecular
Cancer Therapeutics".
O método foi testado em camundongos que tinham tumores
no estômago, mas tem potencial
para ser usado contra outros tumores, ou mesmo micróbios.
Basta que tenham receptores específicos que sirvam de alvo.
Para Mirelman, a terapia poderia servir até nos casos graves em
que células do tumor migrem para outros pontos do organismo, a
chamada metástase. Mesmo que
os médicos não consigam determinar para quais pontos as células metastáticas migraram, "a
combinação anticorpo-aliinase-aliína as caçaria e destruiria em
qualquer lugar do corpo", diz ele.
Os pesquisadores pretendem
agora fazer novos experimentos
para investigar o potencial da terapia, examinando diversos outros tipos de tumores e as moléculas na superfície de suas células.
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