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Lula manda checar dados do desmate
Segundo Planalto, cúpula do governo tem "desconfiança" de número que aponta aceleração da derrubada na Amazônia
Polícia Federal e ministérios
vão avaliar o problema em
campo, e novo relatório
deve sair em um mês; grupo
sobrevoará região hoje
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou que a
Polícia Federal e o ministérios
do Meio Ambiente e da Agricultura façam uma checagem em
campo para confirmar se houve
aumento do ritmo de desmatamento da Amazônia nos últimos cinco meses de 2007.
Nas palavras de um auxiliar
direto, há "desconfiança" na
cúpula do governo a respeito do
alerta que o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais)
divulgou na quarta-feira da semana passada. Lula quer, no
prazo de um mês, uma avaliação nos locais para "tirar dúvida" sobre os dados, ainda segundo o relato desse auxiliar.
Hoje, um grupo de ministros
fará um sobrevôo da região como parte dessa checagem.
Lula foi estimulado pela repercussão negativa da notícia.
Além disso, setores do governo
capitaneados pelo Ministério
da Agricultura endossaram as
críticas aos números feitas pelo
governador aliado Blairo Maggi
(PR-MT), conhecido como um
dos "reis da soja". Maggi integrará a comitiva que fará o sobrevôo hoje.
Segundo estimativa do Inpe,
7.000 km2 de floresta, 4,7 vezes
a área da cidade de São Paulo,
foram derrubados no último
trimestre. Os dados mostrariam interrupção do ritmo da
queda de desmatamento, que
vinha caindo desde a virada de
2004 para 2005.
Um ministro disse à Folha
que, no fim de 2007, havia menos nuvens na Amazônia do
que o usual naquela época do
ano. Com menos nuvens, as
imagens de satélite poderiam
ter captado áreas já desmatadas antes e que não haviam sido detectadas.
Ou seja, poderia existir uma
área de desmate maior do que a
sabida, mas ela poderia ser antiga, o que não significaria aceleração do corte da floresta. A
notícia de aumento do ritmo do
desmatamento preocupou Lula, que fez um pronunciamento
no final de 2007 dizendo que
seu governo combinara política de desenvolvimento da
Amazônia com seguidas diminuições de áreas devastadas.
Há ainda o impacto internacional dessa notícia, negativo
para um presidente com boa
imagem no exterior e que vende o agronegócio brasileiro,
com o álcool à frente, como
ecologicamente correto.
Segundo a ministra Marina
Silva (Meio Ambiente), a extensão da atividade pecuária e
o aumento de plantações de soja na Amazônia seriam as principais causas do desmate.
Além da desconfiança de Lula, Maggi encaminhou à cúpula
do governo -onde tem um
bom trânsito- dados que contradizem números do Inpe. De
acordo com o governador, o
instituto teria contabilizado
áreas de devastação antiga ou
até mesmo regiões em que a
floresta não foi devastada.
Segundo o secretário-executivo do Ministério do Meio
Ambiente, João Paulo Capobianco, os dados aos quais o governador tem se referido são
apenas dos meses de agosto e
setembro, quando o Inpe cometeu um erro. Esse problema,
no entanto, foi corrigido e para
os outros meses não há o que
duvidar das cifras.
Entraves
Reservadamente, Lula se
queixa de que preocupações
ambientalistas seriam exageradas. Costuma dizer que o PAC
(Programa de Aceleração do
Crescimento), plano de investimento em obras de infra-estrutura e energia, sofre atrasos devido a entraves ambientais. O
presidente também afirma que
o agronegócio seria a saída para
a diminuição da pobreza.
Ao mesmo tempo, Lula diz
respeitar o trabalho do Inpe e
de Marina, mas argumenta que,
para tomar decisões de médio e
longo prazo para criar restrições à atividade econômica na
Amazônia, precisa de uma de
checagem dos dados.
Na última quinta, Lula fez
reunião de emergência para declarar "moratória", segundo
Marina, em 36 municípios da
Amazônia que seriam responsáveis por 50% da devastação
recente na região. A depender
do resultado da checagem pedida por Lula, tais medidas poderão ser amenizadas.
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