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EDUCAÇÃO
Universidades e governos federal e estadual lançam iniciativas para ampliar a popularização da ciência no país
Divulgação científica tem ofensiva inédita
FLÁVIO DIEGUEZ
ANDRÉ CHAVES DE MELO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O Brasil está preparando um
movimento ambicioso para ampliar a divulgação e o noticiário de
ciência. Os sinais dessa ofensiva
são muitos e prometem mudar o
panorama da popularização do
conhecimento científico no país.
O lance mais recente da iniciativa partiu da Estação Ciência, ligada à USP, que lançou na semana
passada o livro "Educação para a
Ciência". Destinada a ser um manual para formação de divulgadores em museus de ciência, a obra
reúne, em 678 páginas, ensaios escritos por 131 pessoas. Levou um
ano e meio para ser concluída.
Segundo o organizador do livro,
o físico Ernst Hamburger, diretor
da Estação Ciência, trata-se da
maior coletânea de artigos já publicada nessa área. "O objetivo é
promover o intercâmbio de informações e experiências entre os
profissionais que trabalham nesses espaços de ensino informal e
de divulgação das ciências", afirmou Hamburger.
O livro deverá contribuir nas futuras ações dos novos museus de
ciência da USP. No final deste
ano, a universidade dará início à
construção de um setor de museus em seu campus principal, na
capital paulista.
O local reunirá os museus já
existentes de Arqueologia e Etnologia (MAE) e o de Zoologia
(MZ), aos quais se juntará o Museu de Ciências, criado no ano
passado. Essa nova instituição
"vai funcionar como um grande
pólo gerador de exposições e outros projetos que divulguem os
conhecimentos gerados na USP",
afirma Maria Ruth Amaral de
Sampaio, diretora da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) e presidente da comissão de
implantação do setor de museus.
Ciências da Terra
O conjunto todo sugere um megaprojeto comparável apenas ao
futuro Parque das Ciências da
Terra e do Universo, que a USP
pretende montar na antiga sede
do IAG (Instituto de Astronomia,
Geofísica e Ciências Atmosféricas), no Parque do Estado, junto
ao Jardim Zoológico.
Além do setor dos museus, a
universidade também criou a disciplina Divulgação de Ciências Físicas e Naturais, na área de graduação, cuja aula inaugural aconteceu no último dia 9. "Esperamos, em breve, disponibilizar o
curso para todas as áreas", afirma
Ernst Hamburger.
E vêm por aí mais duas novidades. Em fevereiro, a Associação
Brasileira de Centros e Museus de
Ciência conseguiu aprovar uma
verba de R$ 450 mil do CNPq
(Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico)
para a criação de um portal na internet que, em 2003, deverá congregar sites de 120 centros e museus de ciência brasileiros.
Um mês antes, os participantes
do 4º Congresso Mundial de Centros e Museus de Ciência, realizado em Sidney, Austrália, haviam
decidido que o Brasil, pela primeira vez, sediará um encontro
dessas entidades, um dos acontecimentos mais importantes do
mundo no gênero. O seu 5º Congresso será realizado em 2005, no
Rio de Janeiro.
Institutos do Milênio
O governo federal também está
tomando uma série de iniciativas
na área de divulgação. Uma delas
é o programa Educação para a
Ciência, do CNPq, que recebeu,
em 2001, R$ 5,2 milhões. O projeto foi criado em 2000 e seus recursos já fomentam atividades educacionais e de divulgação.
O CNPq também destinou, no
ano passado, R$ 9,8 milhões à implantação dos chamados Institutos do Milênio. Trata-se de 17 redes ligadas pela internet que congregam instituições científicas de
ponta, universidades e grupos de
pesquisadores com o objetivo de
tornar a ciência brasileira mais
competitiva e integrada no cenário internacional.
A novidade é que, além das atividades de pesquisa, a divulgação
para o grande público do conhecimento gerado é obrigatória na
agenda dos institutos. Em São
Paulo, a Fapesp (Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo) fez algo parecido ao
criar os Cepids (Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão), nos
quais também se considera a divulgação científica como parte
fundamental das atividades. Segundo José Fernando Perez, diretor científico da entidade, a Fapesp deverá investir nessa área,
em parceria com o governo do Estado, cerca de R$ 15 milhões
anuais durante 10 anos.
Jornalismo científico
A movimentação não pára por
aí, mas basta isso para dar uma
idéia da urgência que parece ter-se instalado entre cientistas, educadores e autoridades do mundo
da pesquisa quanto à necessidade
de levar ciência às massas. A Fapesp também deu um passo nesse
sentido neste mês, ao abrir para
assinaturas e venda em banca a
revista "Pesquisa Fapesp", que
aborda pesquisas financiadas pelo órgão. Sua tiragem vai de 24 mil
para 30 mil exemplares.
"Ao disponibilizarmos a revista
nas bancas, pretendemos estimular o aumento do público leitor da
ciência nacional", disse Perez.
Já o Laboratório de Jornalismo
da Unicamp, o Labjor, lança, em
2003, um mestrado em jornalismo científico. Motivo: o curso de
especialização em jornalismo
científico está batendo recordes,
recebendo até 230 inscrições para
30 vagas. "Entendemos que era
hora de criar um mestrado na
área", explica Carlos Vogt, coordenador do Labjor e responsável
pela equipe da SBPC (Sociedade
Brasileira para o Progresso da
Ciência) que vai lançar, em julho,
o novo projeto editorial da revista
"Ciência e Cultura", dando mais
espaço à divulgação da ciência para o grande público.
Na nova fase, ela terá tiragem de
30 mil exemplares, um custo de
R$ 110 mil por edição e periodicidade bimestral.
Ainda na área de mídia, o Brasil
entra no cenário internacional da
divulgação com a realização do 3º
Congresso Mundial de Jornalistas
Científicos, que acontecerá na
Universidade do Vale do Paraíba
(Univap), em São José dos Campos, SP, em novembro. O evento
ocorre juntamente com o 2º Congresso Brasileiro de Jornalismo
Científico. Na mesma ocasião, deverá ser fundada a Federação
Mundial de Jornalismo Científico.
Para Fabíola Oliveira, da Associação Brasileira de Jornalismo
Científico, o cenário atual mostra
que a divulgação científica está vivendo um momento de grande
expansão, cuja origem se encontra nas atuais demandas da sociedade. "Entretanto, as iniciativas
são isoladas, o que acaba favorecendo a perda de uma parcela
desse potencial de expansão. Nos
EUA e em países da Europa, a divulgação científica e, consequentemente, a popularização da ciência, fazem parte, de maneira altamente organizada, das metas das
políticas públicas", disse. "O que
falta, agora, é a criação de um Plano Nacional de Divulgação e Popularização da Ciência", afirmou.
Depois do longo processo de
preparação, no entanto, a tendência é um crescimento persistente,
como se vê pelo caso dos Institutos do Milênio, que deverá receber mais R$ 90 milhões, até 2003,
do CNPq e do MCT (Ministério
da Ciência e Tecnologia). O CNPq
tem ainda um Programa para Publicações Científicas, pelo em parte voltado para a divulgação, cujo
orçamento cresceu nada menos
que 62% nos últimos dois anos,
atingindo R$ 3,6 milhões.
Reforma
Para o ministro da Ciência e
Tecnologia, Ronaldo Sardenberg,
a divulgação científica é um meio
de garantir a continuidade da reforma pela qual passa hoje a política científica brasileira.
Essa reforma pode dobrar o ritmo de crescimento da ciência no
país, que já é três vezes maior que
a média mundial, formando,
atualmente, 6.000 doutores ao
ano -o mesmo nível da Itália.
"Como a divulgação da ciência
desperta o interesse da população, ter o apoio dela é a melhor
maneira de garantir a continuidade e o crescimento da pesquisa no
país", afirmou o ministro.
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