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ENTREVISTA
PABLO FAJNZYLBER
Taxar a energia suja será algo inevitável
Para economista do Banco Mundial solução da crise climática passa por uma espécie de protencionismo verde
Leonardo Wen/Folha Imagem
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Pablo Fajnzylber, economista do Bird para a América Latina |
A CRISE DO CLIMA vai aumentar a pobreza
no país, diz o relatório "Desenvolvimento
Com Menos Carbono", do Banco Mundial.
Para o chileno Pablo Fajnzylber, economista sênior do Bird na América Latina e autor do estudo, investir em eficiência energética, transporte público limpo, energias renováveis e na queda do desmatamento da Amazônia não vai causar "arrependimento em ninguém". Leia, a seguir, trechos da entrevista.
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
FOLHA - O relatório que o Banco
Mundial acaba de lançar no Brasil
fala em investimentos "sem arrependimentos" para um desenvolvimento com menos carbono, mas
com a crise econômica que está em
curso hoje no mundo, o custo ambiental de atenuar ou evitar as mudanças climáticas não fica ainda
mais proibitivo?
PABLO FAJNZYLBER - Existem
muitos investimentos que você
teria interesse em fazer mesmo
sem considerar os benefícios
climáticos. O termo sem arrependimento não tem nada a ver
com um conceito moral. É apenas um caminho onde os benefícios são maiores do que os
custos. Veja o caso da eficiência
energética. Existem muitas formas de poupar energia na produção, na geração e na distribuição. A poupança de energia
mais do que compensa o custo
do investimento para trocar o
eletrodoméstico, a lâmpada ou
para modernizar uma planta de
energia elétrica, por exemplo.
O fato de isso também contribuir para mitigar a mudança
climática é lucro.
FOLHA - No caso da América Latina, portanto, a crise econômica não
é nenhum obstáculo ao combate
das mudanças climáticas?
FAJNZYLBER - A crise tem efeitos
que vão diminuir os esforços
dos países em responder as
mudanças climáticas, mas ela
abre também outras possibilidades para políticas que sejam
benéficas para o objetivo de lidar com a mudança climática.
FOLHA - Taxar o carbono por meio
das energias sujas, por exemplo, seria algo viável agora?
FAJNZYLBER - Como reduzir as
emissões de gases de efeito estufa tem um custo, a ideia é que
será necessário que todos, de
alguma maneira, internalizem
o custo social que as emissões
têm. Isso poderá ocorrer por
meio de impostos sobre produtos que sejam intensivos em
emissões de carbono, de outros
gases, ou por meio de regulações que coloquem um limite a
quantidade de emissões que as
empresas poderiam ter.
FOLHA - Seria uma espécie de protencionismo ambiental? Como colocar um imposto sobre o petróleo?
FAJNZYLBER - Uma espécie de
protencionismo ambiental será
inevitável. Existe uma espécie
de preço social do carbono. Um
exemplo prático, por exemplo,
seria taxar o petróleo. Mas estamos em um período que
qualquer taxa é impopular. Os
governos estão até tentando
buscar uma maneira de reduzir
taxas. Nesse sentido, uma taxa
para combater as mudanças climáticas seria muito impopular.
A crise econômica é uma desvantagem para que medidas como essa possam ser tomadas
neste momento.
FOLHA - O relatório que o senhor
assina como um dos autores diz que
no Brasil as mudanças climáticas
vão aumentar a pobreza, mas nem o
Brasil nem o Banco Mundial têm
ações específicas hoje no Nordeste,
por exemplo, uma das áreas que vão
ser bastante afetadas. Como é possível construir ações concretas para
essas regiões?
FAJNZYLBER - Uma política "sem
arrependimento" para o clima
deve ter melhoria da previsão
meteorológica. Estações que
monitorem o clima. O Brasil está trabalhando muito forte nisso no Inpe (Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais). Você
prever melhor a seca vai gerar
um ganho bastante significativo na produção agrícola. A proteção social é outro item que
tem de constar das políticas de
clima. O objetivo disso é fazer
com que aquelas famílias que
serão afetadas tenham a capacidade de sobreviver. Que elas
não sejam obrigadas a tirar as
crianças da escola ou colocá-las
no mercado de trabalho. Em resumo, é ajudar a família a não
fazer com que seu consumo
caia tanto quanto sua renda durante o período de seca.
FOLHA - O estudo também aborda
a questão do desmatamento, que
no Brasil ainda continua um grande
problema. Como atacá-lo corretamente do ponto vista econômico?
FAJNZYLBER - No Brasil e na
América Latina existe um ambiente favorável a um desenvolvimento com menos carbono. Mesmo em relação às florestas não surpreende que tenhamos apenas 30% de destruição. No Brasil, mais de 60%
das emissões saem do uso do
solo. É uma área onde é possível fazer cortes. Existe gordura.
Em um contexto de um acordo
global, em reduzir as emissões
de forma significativa, deveriam existir formas de compensar os países que protegem suas
florestas. Nós não apoiamos
nenhum mecanismo específico. Estamos conscientes de que
existem diversas formas e isso
está sendo negociado em nível
internacional. Não existe uma
receita única.
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