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Prazo para evitar perigo climático está quase no fim
Mesmo com corte drástico no CO2, existe risco de 25% de o aquecimento global ultrapassar o limite arriscado de 2ºC
Estudo define uma cota de
1 trilhão de toneladas de gás carbônico como o teto a ser emitido até 2050 para que clima não fique "perigoso"
DA REPORTAGEM LOCAL
A humanidade já está passando do ponto de conseguir
evitar uma catástrofe climática.
Um novo estudo mostra que o
mundo tem de emitir no máximo 1 trilhão de toneladas de
CO2 nos primeiros 50 anos deste século se quiser ter uma
chance razoável de evitar um
aquecimento de mais de 2C na
temperatura global. Porém,
apenas nos últimos nove anos,
já lançou um terço disso.
O diagnóstico aparece hoje
no periódico "Nature". Foi a
primeira vez que uma pesquisa
fez um cálculo desse tipo.
Segundo o estudo, mesmo
que o mundo consiga seguir o
planejamento de emitir no máximo 700 bilhões de toneladas
de CO2 daqui a 2050, haverá
uma chance de 25% de a temperatura aumentar mais do
que 2C, limite considerado seguro pelos cientistas.
"Ninguém entraria num carro se a chance de não chegar ao
destino fosse de uma em quatro", avalia o líder do estudo, o
pesquisador Malte Meinshausen, do Instituto de Pesquisa
de Impactos Climáticos de
Potsdam (Alemanha).
Segundo ele, se continuarmos a queimar combustíveis
fósseis no ritmo atual, atingiremos a cota máxima em 2030.
Dessa forma, ficará inviável segurar o aumento da temperatura em 2C até 2100.
Para tentar limitar o aumento da temperatura em 2C, diz,
o mundo só poderá usar um
quarto das reservas de combustíveis fósseis comprovadas
até agora entre 2009 e 2050.
Isso vale especialmente para
o carvão mineral, o combustível fóssil mais barato, mais
abundante e mais poluente. "A
queima de carvão domina completamente as emissões de gases-estufa", diz Paulo Artaxo,
físico da USP membro do IPCC
(Painel Intergovernamental
sobre Mudança Climática).
Nem assim
As implicações políticas dos
novos dados são enormes. Eles
sugerem que nem mesmo as
metas mais ambiciosas em discussão hoje para corte de emissões de gases-estufa no futuro
evitarão com certeza aquilo
que os cientistas chamam de
"interferência perigosa".
A meta em discussão nas negociações internacionais de clima é reduzir as emissões de gases-estufa em 50% até 2050.
Também se discute uma meta
de curto prazo, para 2020, mas
ainda não há consenso.
Meinshausen e colegas argumentam, no entanto, que as
emissões precisam cair mais de
50% em relação aos níveis de
1990 para limitar o risco de exceder os 2C em 25%. Além disso, afirmam que as emissões
precisam começar a declinar
antes de 2020 -por volta de
2015 idealmente.
Para Nobre, o fato de o estudo mostrar um número máximo de quanto poderemos emitir num determinado período
"não significa que será possível
continuar com o status quo e
torcer para que um dia apareça
uma tecnologia que nos torne
completamente independente
dos combustíveis fósseis".
Os autores dizem que se o
mundo deixar para começar a
cortar radicalmente suas emissões após 2025, seria necessário uma redução de 10% ao ano
para ficar dentro da cota -muito mais do que o Protocolo de
Kyoto, que vem sendo cumprido por poucos países, prevê para um prazo de quatro anos.
Incerteza
Nobre explica que o mundo
não estará livre dos impactos
mesmo com um aquecimento
limitado a 2C. Com essa temperatura adicional, a Terra estaria mais quente do que esteve
em vários milhões de anos. O
nível do mar pode subir 50 cm
ou mais, ilhas oceânicas podem
desaparecer e as tempestades
podem ficar mais severas. Desde o começo da era industrial, a
temperatura já subiu 0,8C.
Martin Parry, um dos líderes
do IPCC, é mais pessimista:
"Nós deveríamos planejar uma
adaptação a pelo menos 4C de
aquecimento", escreveu, num
comentário na "Nature".
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