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comentário
Decisão do Supremo já chega caduca
MARCELO LEITE
COLUNISTA DA FOLHA
A decisão do Supremo
Tribunal Federal (STF) a
favor da já ultra-restritiva
Lei de Biossegurança, no
que toca à pesquisa com
embriões, chega com atraso. Parece que está no
DNA do debate público
nacional: começa tarde,
demora mais do que deveria -basta acompanhar os
intermináveis votos no
STF- e, quando, termina,
está superado pelos fatos.
A própria Lei nº 11.105/
2005 demorou. Vinha modificar a anterior (8.974/
1995), que caducou rápido
por proibir qualquer pesquisa com células-tronco
embrionárias humanas, ao
vedar "produção, armazenamento ou manipulação
de embriões destinados a
servir como material biológico disponível".
Algo de similar ocorre
com o artigo 5º da Lei de
Biossegurança, agora referendado pelo STF. Ele se
limita a autorizar o uso dos
raros embriões que satisfaçam uma de duas condições -ser inviável ou estar
congelado há mais de três
anos. Isso já atrapalha a
pesquisa, diante das leis de
países mais avançados.
O Reino Unido já aprovou até embriões híbridos,
produto da fusão de óvulos
de vaca com células humanas. Só para pesquisa, claro, e para evitar desperdício de óvulos humanos.
Há mais, porém, contra
a expectativa de vida da lei.
O ministro Carlos Alberto Direito, cujo pedido
de vista garantiu mais
atraso, mencionou a possibilidade de obter células-tronco de um embrião,
que permaneceria íntegro.
A ministra Ellen Gracie
Northfleet ressalvou, corretamente, que um único
estudo -de Robert Lanza,
controverso e não replicado- obteve isso.
Existe ainda a criação de
células-tronco com o potencial de embrionárias,
mas a partir de tecido
adulto. Pesquisa com as
próprias células-tronco
adultas, além disso, prescindem da destruição de
embriões e avançam em
aplicações terapêuticas.
Em resumo: conseguiu-se enfim autorizar o que
dez anos atrás parecia promissor, mas em raras situações, hoje, e com perspectivas cada vez mais estreitas. Mesmo quem discorda de dar carta branca
aos cientistas pode diagnosticar aí uma incapacidade crônica de decidir o
que fazer em sincronia
com a própria época.
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