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ONG propõe frear "escalada de consumo" com imposto
Worldwatch Institute lança hoje edição de 2010 de "O Estado do Mundo", a Bíblia ambiental, com foco em mudanças culturais
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
O mundo deveria reduzir
impostos sobre renda e serviços e taxar o consumo excessivo da população dos países
ricos -e da parcela rica dos
países emergentes.
Essa é a solução proposta
pelo ambientalista Christopher Flavin, presidente do
Worldwatch Institute, para
reduzir a "escalada de consumismo" que impede que a
humanidade se "equilibre
com a natureza".
A ONG lança hoje o "Estado do Mundo", publicação
anual que já foi considerada
a Bíblia do ambientalismo.
Publicada desde 1984, a
série tem se notabilizado por
antecipar o debate ambiental
-já em 2001, por exemplo,
falava em "descarbonização
da economia", bem antes
que o termo virasse moda.
Na edição deste ano, o "Estado do Mundo" trata de como transformar a cultura e o
consumo, abordando desde
a publicidade até a mídia.
De seu escritório em Washington, Flavin falou à Folha. O livro pode ser baixado
gratuitamente na internet
(www.worldwatch.org.br).
Folha - Toda vez que os ambientalistas abordam o tema
cultura, eles não conseguem
ir além do clichê do consumo
insustentável. Como vocês
esperam fazer diferente?
Christopher Flavin - A chave não está apenas em identificar isso como um fator, mas
sim em mudar a cultura de
uma forma que faça diferença. E o que é empolgante neste livro este ano é que nós
identificamos uma série de
iniciativas de sucesso. Um
exemplo é a Interface, uma
empresa produtora de tapetes e carpetes nos EUA, que
há 15 ou 20 anos realmente
abraçou a sustentabilidade
na cultura corporativa e mudou o seu sistema de valores.
Ela acabou tendo muito sucesso economicamente.
Como o sr. espera entregar
uma mensagem de menos
consumo em sociedades como o Brasil, que tem 20 milhões de pessoas que acabam
de sair da pobreza?
Embora haja uma quantidade enorme de pessoas no
Brasil que compreensivelmente querem aumentar seu
consumo, há também muitas
pessoas que vivem tão bem
quanto ou melhor que muita
gente na Europa e nos EUA.
Vocês têm a oportunidade de
pular alguns dos padrões
mais destrutivos de consumo
que atravessamos nos EUA
nas últimas décadas.
É possível produzir mudanças culturais apenas com incentivos positivos? Até agora,
impostos ainda parecem ser a
melhor solução...
É claro que você precisa de
impostos para financiar operações do governo e, sendo
este o caso, acho que faz sentido mudar alguns desses impostos sobre coisas como
renda e serviços e redirecioná-los para consumo ou
emissões de carbono. Precisamos ter uma certa quantidade de impostos para ter
uma sociedade que funcione, a questão é o que taxar. E
podemos ajudar esse processo ao direcionar impostos de
forma a desencorajar o consumo material que causa a
maioria desses problemas.
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