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+ ciência
Para a indústria farmacêutica, que investe bilhões de dólares em pesquisas,
patentes de remédios são tão importantes quanto descobertas científicas
Princípios lucrativos
Sheryl Gay Stolberg e Jeff Gerth
do "The New York Times"
A indústria farmacêutica é arriscada, mas lucrativa. Descobertas
científicas viram remédios que
salvam vidas e geram milhões de
dólares. O processo, porém, consome
tempo -de 12 a 15 anos- e dinheiro.
As companhias gastam mais de US$ 20
bilhões (R$ 36 bilhões) por ano pesquisando novas drogas. Calcula-se em mais
de US$ 500 milhões (R$ 900 milhões) o
custo para desenvolver um remédio.
O custo real -laboratórios, matéria-prima, salários de pesquisadores, testes
clínicos- corresponde a uma pequena
parte disso. O resto é fundo perdido:
tempo e dinheiro gastos em pesquisas
que acabam não dando em nada.
De 10.000 remédios potenciais, 250
chegam a testes com animais. Desses,
cinco serão testados em humanos.
Na primeira fase dos testes com humanos, o remédio é dado a voluntários saudáveis para testar a segurança e definir a
dose adequada. A segunda fase usa portadores do mal que o remédio deve tratar
para verificar eficácia e efeitos colaterais.
Na terceira fase, milhares de pacientes
podem ser testados, permitindo a avaliação da droga em uma população heterogênea por um período longo. Essa fase
pode custar de US$ 10 mil a US$ 20 mil
por paciente (de R$ 18 mil a R$ 36 mil).
Para recuperar o investimento, as empresas exploram ao máximo a validade
de suas patentes -que, nos EUA, é de 20
anos a partir do registro do pedido.
Por exemplo, o tempo de aprovação de
drogas pela FDA (agência que regula remédios nos EUA), que chegava a 30 meses, comia um pedaço da vida das patentes. Em 92, o Congresso aprovou lei permitindo o financiamento privado do
processo. Entre 92 e 97, a indústria farmacêutica deu à agência US$ 327 milhões para contratar 600 especialistas. A
média do tempo de aprovação baixou
para 12 meses.
Nem sempre as patentes tiveram tanta
importância. Explicando a ausência de
patente da vacina que inventou contra a
poliomielite, Jonas Salk respondeu: "Alguém pode patentear o Sol?". O inventor
da estreptomicina -uma das mais importantes descobertas na área de antibióticos, nos anos 40-, Selman Waksman, patenteou a droga, mas abriu mão
dos direitos. Muitas empresas puderam
vendê-la, com preços e lucros baixos.
Hoje, muitas empresas obtêm o grosso
de sua receita da venda de um punhado
de remédios bem-sucedidos. Os fabricantes dizem precisar de patentes mais
longas para que o investimento gere lucro. Especialistas, porém, dizem que a
expiração -e não a extensão- das patentes estimula a inovação. A indústria
Eli Lilly, por exemplo, está pesquisando
novos antidepressivos, motivada pelo
fim iminente da patente do Prozac.
Nos próximos cinco anos, devem acabar as patentes de alguns dos remédios
mais lucrativos da história, como o Claritin (para alergia) e o Zocor (para colesterol alto). Sem patentes, o mercado se
abre para os genéricos -remédios com
a mesma eficácia dos originais, de outras
marcas, em geral mais baratos.
Os genéricos podem corroer o mercado de uma droga de marca em meses. Algumas empresas, para se defender, conseguem dificultar sua venda ou distribuição, pressionando legisladores.
Em 84, o Congresso dos EUA aprovou
uma lei facilitando a competição dos genéricos. Até então, menos de 20% das receitas médicas prescreviam drogas genéricas. Em 96, os genéricos dominavam
46% do mercado. Isso teria representado
uma economia de US$ 8 bilhões a US$ 10
bilhões por ano para os consumidores.
Mas, pelo fato de seu custo ser menor, os
genéricos correspondem a uma pequena
fração das vendas totais da indústria.
Os fabricantes dizem que o preço dos
remédios é ditado pelo alto custo da pesquisa. Mas os principais fabricantes gastaram, em 98, três vezes mais em marketing e despesas gerais e administrativas
(em porcentagem sobre as vendas) do
que em pesquisa e desenvolvimento. A
decisão de preços é livre nos EUA, um
dos únicos países desenvolvidos a não
controlar os preços de remédios.
Paradoxalmente, a competição com os
genéricos geralmente resulta em preços
mais altos para o remédio original, já que
as companhias querem extrair o máximo de um mercado em contração.
Mais de três quartos dos norte-americanos com menos de 65 anos têm seguros de saúde que cobrem remédios. As
companhias de seguros, em geral, negociam descontos, cujo valor é mantido em
segredo. Com os idosos (13% da população), responsáveis por aproximadamente um terço de todas as despesas com remédios, é diferente. Um terço deles não
tem plano de saúde, pagando pelas drogas do próprio bolso -e pagando caro.
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