São Paulo, sexta-feira, 30 de julho de 2004

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AMBIENTE

Cientistas em conferência encerrada ontem pedem revolução científica impulsionada por investimentos oficiais

Para LBA, Amazônia precisa do governo

CLAUDIO ANGELO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

A Amazônia precisa de uma revolução científica e tecnológica com investimentos concentrados do governo, nos moldes do que foi feito na criação do ITA (Instituto e Tecnologia da Aeronáutica) e da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). O diagnóstico é de cientistas reunidos em Brasília para a 3ª Conferência Científica do LBA (Experimento em Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia), que acabou ontem.
Esse investimento, segundo o diretor científico do LBA, Carlos Nobre, inclui o estabelecimento de meia dúzia de instituições científicas fortes, como o Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e o Museu Paraense Emílio Goeldi, a formação de 3.000 cientistas e o desembolso anual de R$ 300 milhões pelo Ministério da Ciência e Tecnologia para pesquisas na região -uma parte nada desprezível do orçamento do próprio ministério, estimado em R$ 2 bilhões.
"O Brasil é uma potência agrícola e a quarta potência aeronáutica do mundo graças à Embrapa e ao ITA. A Amazônia é um desafio muito maior", disse Nobre.
Uma nova fase do LBA, começando em 2006, consumiria R$ 15 milhões por ano para consolidar os resultados das pesquisas que vêm desde o início do programa.
Em cinco anos, o experimento consolidou várias suspeitas sobre o funcionamento dos ecossistemas amazônicos. Dois resultados importantes envolvem o fluxo de carbono na floresta e o uso do fogo. Resultados do projeto apontam que a floresta é um sumidouro de gás carbônico, principal gás de efeito estufa. Cerca de meia tonelada por hectare por ano seria "seqüestrada" -mais que o gás carbônico produzido pela queima de combustíveis fósseis no Brasil.
Outra suspeita confirmada é o prejuízo causado pelas queimadas para o clima local e para o ciclo de nutrientes do solo.

Desmatamento reduzido
Medidas simples, como o cumprimento do Código Florestal e a implementação de áreas de conservação, podem reduzir o desmatamento da Amazônia em até 62% em relação às previsões a partir do cenário atual.
A indicação é do primeiro modelo completo de destruição da floresta, construído por pesquisadores do LBA. Segundo o modelo, se o ritmo da devastação (que vem acelerando nos últimos cinco anos) for mantido, 47% dos 3,3 milhões de quilômetros quadrados de floresta existentes no Brasil desaparecerão em 2050.
"Isso não deve ser visto como uma cifra absoluta, mas como um patamar", afirmou Britaldo Soares Filho, da Universidade Federal de Minas Gerais, que criou o modelo em computador.


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