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ASTRONOMIA
Objeto tem pelo menos o tamanho de Plutão, possivelmente é maior e desafia a definição dada a esses astros
Trio acha o 10º planeta do Sistema Solar
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um trio de cientistas nos Estados Unidos anunciou a descoberta do décimo planeta no Sistema
Solar. Seu nome oficial por enquanto é 2003UB313, mas os astrônomos já submeteram uma
sugestão mais charmosa para batizar o astro, que está sendo neste
momento avaliada pela IAU
(União Astronômica Internacional), órgão responsável pela categorização de novos objetos.
O corpo celeste foi descoberto
por Michael Brown, do Caltech
(Instituto de Tecnologia da Califórnia), Chad Trujillo, do Observatório Gemini, e David Rabinowitz, da Universidade de Yale.
Um anúncio sumário de sua descoberta figurava no site de Brown
na internet (www.gps.caltech.edu/~mbrown/) antes mesmo da
entrevista coletiva conduzida ontem às pressas no JPL (Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa),
em Pasadena, na Califórnia.
O planeta gira ao redor do Sol a
cada 560 anos, a uma distância de
14,5 bilhões de quilômetros da estrela (Plutão, em comparação, fica a 5,6 bilhões de quilômetros).
Sua descoberta foi dificultada, segundo Brown, pela órbita do astro, que tem uma inclinação de
45 com relação à dos demais planetas, inclusive a Terra.
"É maior que Plutão!", exclama
o astrônomo em seu site. "Usualmente, quando encontramos esses objetos, não sabemos seu tamanho ao certo, apenas seu porte
mínimo. O porte mínimo desse
objeto é do tamanho de Plutão.
Esse objeto é pelo menos do tamanho de Plutão e provavelmente é até um pouco maior."
O trio estima que o objeto tenha
uma vez e meia o diâmetro de
Plutão, o que lhe dá uma boa base
para defender que o novo astro
deve figurar como planeta.
Dúvidas
De uma década para cá, o status
planetário de Plutão tem sido intensamente debatido na comunidade astronômica. Descoberto
em 1930 pelo astrônomo Clyde
Tombaugh, ele é o menor planeta
do Sistema Solar, com cerca de
2.250 quilômetros de diâmetro. É
menos da metade do diâmetro do
segundo menor planeta, Mercúrio, que tem aproximadamente
4.880 quilômetros de largura. Para que se tenha uma idéia, Plutão
é menor até mesmo que a Lua.
E o pequeno planeta passou a
ser ainda mais ameaçado quando
se confirmou que ele é apenas
mais um objeto do cinturão de
Kuiper -uma faixa no Sistema
Solar além da órbita de Netuno (o
oitavo planeta) composta por
uma infinidade de pedregulhos
de gelo. É lá que residem os cometas que, vez por outra, passam pelas imediações do Sol e oferecem
espetáculos nos céus da Terra.
Ainda assim, a IAU preferiu
manter o status de Plutão como o
nono planeta, por razões históricas. De certo modo, isso criou um
limite mínimo de diâmetro para o
que se deve considerar um planeta. O que for maior que Plutão é
planeta. O que for menor, não é.
Nos últimos anos, os astrônomos encontraram vários dos chamados KBOs (objetos do cinturão
de Kuiper, na sigla em inglês) com
dimensões similares à de Plutão,
ainda que menores que ele. O próprio Brown, em 2004, havia anunciado a descoberta de um objeto
que eles batizaram de Sedna, com
uns 1.700 km de diâmetro.
O último dos grandes KBOs a
ser descoberto, com cerca de 1.500
km de diâmetro, foi reportado
ontem, por um grupo liderado
por José Ortiz, do Instituto de Astrofísica da Andaluzia, Espanha.
O grande destaque dessa descoberta é que o tal objeto, batizado
2003 EL61, além de um tamanho
considerável, também tem uma
lua ao redor dele -assim como
Plutão, que tem uma lua relativamente grande (Caronte, com
1.172 km de diâmetro).
Ao ver o anúncio de Ortiz, o
grupo de Michael Brown disse
também haver encontrado esse
mesmo objeto, no que pareceu o
início de uma corrida para a descoberta de novos candidatos a
planeta. Mas Brown e seus colegas
ainda tinham um ás na manga.
Era o anúncio do décimo planeta, feito ontem de forma improvisada e ainda pendente pela aprovação da União Astronômica Internacional. "Nós propusemos
um nome [para o objeto] à IAU e
iremos anunciá-lo quando ele for
aceito", diz Brown em seu site.
Segundo Cássio Leandro Barbosa, astrônomo do Instituto de
Astronomia, Geofísica e Ciências
Atmosféricas da USP, que viu o
telegrama enviado à IAU pelo trio
dos Estados Unidos, "as efemérides [os dados relativos à órbita do
astro] são confiáveis".
Para Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, do Museu de Astronomia e Ciências Afins do Rio de
Janeiro, o achado evoca velhas
lembranças. "Quando, 50 anos
atrás, eu entrei para o Observatório Nacional e defendi os estudos
do Sistema Solar, diziam que nada mais havia para ser descoberto
no nosso sistema planetário e que
o último planeta era Plutão", disse
à Folha. "No Observatório Real
da Bélgica, o meu professor Silvan
Arend mostrou inúmeros cálculos através dos quais esperava localizar outros planetas além de
Plutão ou na vizinhança dessa região. As suas observações não davam resultados porque não possuía as tecnologias atuais. Neste
momento volto o meu pensamento para ele. Ele tinha razão."
Para cima ou para baixo?
O achado apresenta, na verdade, uma situação bem incômoda
para as convenções astronômicas.
A IAU agora vai ter de se decidir
de uma vez por todas: ou muda
seus critérios e "rebaixa" Plutão à
mera categoria de KBO, deixando
o Sistema Solar com nove planetas, ou eleva o 2003UB313 à categoria planetária, deixando o Sol
com uma família de dez.
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