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Navio traz 55% das espécies invasoras
Levantamento mostra que lastro de barco é o maior responsável por dar carona a organismos exóticos ao Brasil
Sem inimigos naturais
no país, invasores se
multiplicam além da
conta e causam dano
ambiental e econômico
RICARDO MIOTO
ENVIADO A NATAL
O Brasil tem mais de 50 espécies invasoras marinhas.
Esse número deve aumentar,
já que não se sabe como barrar a chamada bioinvasão,
que pega carona no lastro de
navios em 55% dos casos.
O dado é do Ministério do
Meio Ambiente, que aponta a
água de lastro das embarcações internacionais como a
principal vilã do problema.
Para aumentar a estabilidade quando descarregados,
os navios se enchem de água
num tanque que atua como
lastro. Entre um porto e outro, espécies viajam clandestinas nos tanques e chegam
aos novos habitats.
Isso acarreta perda da biodiversidade na costa, pois as
espécies nativas, forçadas a
concorrer com as invasoras,
podem acabar extintas. Desde 1600, 39% das extinções
com causas conhecidas estavam relacionadas à competição com espécies invasoras.
Com os barcos trazendo
espécies marinhas para cá e
para lá, a biodiversidade
também diminui. "É uma homogeneização, podemos
acabar tendo uma biota global", diz Rosa de Souza, bióloga da Universidade Federal
Fluminense, que apresentou
os dados no encontro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, em Natal.
Os biólogos estão preocupados, porque há espécies
invasoras especialmente
problemáticas, como algas
tóxicas que afloram em
praias turísticas ou espécies
que causam danos à saúde,
como a bactéria do cólera.
No Brasil, o caso mais famoso é o do mexilhão-dourado, espécie asiática que chegou ao país em 1998 e, sem
predadores, virou praga. Ele
gruda nos equipamentos das
usinas hidrelétricas, atrapalhando o fluxo de água.
"Há mais de dez anos os
países procuram soluções",
diz o biólogo Flávio da Costa
Fernandes, do Instituto de
Estudos do Mar Almirante
Paulo Moreira, da Marinha.
CONVENÇÃO
Em 2004, a Organização
Marítima Internacional propôs uma convenção sobre a
água de lastro, com medidas
como fazer com que os navios renovem o conteúdo dos
tanques no meio do oceano.
No entanto, mesmo essa troca não eliminaria totalmente
o problema, já que muitos organismos resistiriam a ela.
Outra sugestão seria obrigar os barcos a tratar a água
de lastro. "Mas ainda não há
tecnologia desenvolvida para isso", diz Fernandes.
A convenção já foi ratificada por 26 países (inclusive o
Brasil), mas precisa de pelo
menos 30 para entrar em vigor. O Brasil já obriga os navios que passam pelos seus
portos a fazer a troca oceânica, entre outras exigências.
A bioincrustação (acúmulo de organismos no casco)
também leva espécies pelo
mundo. O uso de tintas especiais poderia evitar o problema, mas muitos navios não
fazem a pintura periódica.
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