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Cérebro registra a banana como
amarela, mesmo que ela seja cinza
Experimento revela que a mente tem uma espécie de memória das cores
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Não adianta mostrar para o
ser humano uma banana em
em tons de cinza. Desde que essa pessoa já tenha visto a fruta
com sua marcante cor amarela,
ela praticamente não vai enxergar o objeto de outra maneira.
Essa percepção natural das
cores, guardada na memória
cerebral, acaba de ser decifrada
por um estudo realizado na
Universidade de Giessen, na
Alemanha. O trabalho está publicado na edição mais recente
da revista científica "Nature
Neuroscience".
"Quando nós vemos uma banana, na maioria dos casos, ela
é amarela. Essa associação forte forma o que chamamos de
memória colorida, que fica registrada em uma parte do córtex cerebral", explicou Thorsten Hansen, o primeiro autor
do trabalho alemão, à Folha. O
estudo é assinado por outros
três pesquisadores que também são da Alemanha.
Por causa disso, ao enxergar
novamente a fruta, existe uma
espécie de retroalimentação
dessa informação que é somado àquilo que os olhos estão
realmente enxergando. "Então,
a banana acaba aparecendo
mais amarela do que nunca para aquela pessoa", disse. Isso
tanto é verdade, que o experimento realizado com estudantes alemães produziu fatos bastante inusitados.
Todos os 14 participantes foram convidados a ajustar a tela
de seus computadores, onde
aparecia a banana amarela, de
modo que a figura ficasse preta
e branca. Depois, todos tiveram
que mudar novamente as cores
para que a fruta voltasse a ter
sua cor natural. Resultado. A
banana ficou azul.
O cérebro, ao atuar junto
com os olhos, acabou processando uma imagem da banana
como se ela realmente fosse da
cor amarela. Com certeza, essa
figura já estava guardada na
memória das pessoas.
"Isso porque, no início do segundo experimento, o cérebro
enxergou a fruta amarelada e
não preta e branca", explica
Hansen, que é ligado ao departamento de Psicologia da instituição de ensino alemã.
Segundo o cientista, a partir
de agora, as teorias existentes
que estudam o processo de retroalimentação das informações sensoriais terão que passar a incorporar essa nova descoberta. "Está claro, pelos nossos dados, que existe uma memória das cores que interfere
sobre a informação que está
sendo captada exclusivamente
pelos olhos do ser humano."
Apesar de ter sido feito apenas
na Alemanha, com pessoas
nascidas naquele país, o estudo
deve apresentar os mesmos resultados em outros locais do
mundo, segundo o pesquisador. "Uma vez que existe a associação entre a fruta e a cor lá
dentro da mente o efeito será o
mesmo, independente da cultura ou da nação que esse tipo
de experimento seja realizado", afirma Hansen.
O próprio trabalho já realizado na Europa também detectou a existência de uma forte
memória colorida, guardada no
cérebro, para outros seis tipos
de vegetais. Estão nessa lista a
laranja, a cenoura e o pepino,
por exemplo.
Em todos os casos, os resultados foram exatamente os
mesmos. Primeiro, os participantes tiveram que ajustar a
coloração dos objetos para que
todos ficassem preto e branco.
Na etapa seguinte, quando teoricamente todos deveriam fazer os itens alimentícios voltarem a aparecer como são conhecidos, ocorreu a transformação. Isso porque o cérebro
enxergava de uma forma aquilo
que os olhos estavam vendo.
"A nossa visão de mundo afeta bastante a nossa percepção
visual", explica Hansen. Para o
pesquisador europeu, os mecanismos que determinam a aparência colorida das coisas, que
fazem funcionar o sistema visual humano, vai da retina ao
córtex cerebral e agora, também, inclui a memória visual
que as pessoas têm.
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