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Frio atípico surpreende cientistas na Antártida
Verão tem mar congelado e neve acumulada na região mais tépida do continente,
que teve em 2009 o inverno
mais rigoroso em 18 anos
Pesquisadores chegam a
afirmar que área onde o
Brasil faz ciência passa por
resfriamento; em outras
zonas, o degelo continua
Eduardo Knapp/Folha Imagem
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Estação Antártica Comandante Ferraz, semicoberta de neve
EDUARDO GERAQUE
ENVIADO ESPECIAL A ANTÁRTIDA
O domingo foi de neve na
baia do Almirantado. O vento
forte fez ondas se formarem no
mar. A vista das janelas da estação brasileira Comandante
Ferraz é bloqueada pelo acúmulo de mais de dois metros de
altura de neve. No fundo da
baía, grande parte do mar permanece congelada.
Os mais experientes olham
para o calendário e se surpreendem. Nesta época, verão
no hemisfério Sul, é comum
que não exista mais neve em
frente à estação.
Quem dá sustentação para a
impressão dos pesquisadores
antárticos é Heber Passos, ele
mesmo um veterano na ilha Rei
George, que abriga a estação
antártica brasileira.
O técnico do Inpe (Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais) vive em um módulo separado da base, no alto de um
morro próximo. Lá, ele registra
tudo sobre as condições meteorológicas de toda a área.
Os gráficos que emergem do
computador atestam um inverno rigoroso. O mês de agosto,
por exemplo, teve mínima de
25,6 C negativos e média de -9
C. Só superior a 1991, quando a
estação controlada pelo Inpe,
que opera há 23 anos, marcou
-28,5C de temperatura mínima e média de -11,3C.
Nos últimos dias, em novembro, as temperaturas rondaram
0C, com sensação térmica de
-13C em alguns momentos.
Menos importante que os recordes anuais dos termômetros, diz Passos, é o ciclo dos invernos rigorosos. "Antes eles
eram mais espaçados [de quatro em quatro anos mais ou menos], agora tivemos um 2007 e
outro em 2009", comenta.
Por eventos como o registrado hoje na estação brasileira, é
que outros pesquisadores antárticos do Brasil não gostam
do termo aquecimento global.
Eles preferem falar em variações climáticas. Pelo menos onde fica estação Comandante
Ferraz e na região noroeste da
península Antártica, o termo
mais correto para é "resfriamento global", mesmo os cientistas não sabendo explicar por
que ele está ocorrendo.
De acordo com Passos, não
são apenas os dados brasileiros
que apontam na direção de um
quadro mais frio. O acúmulo de
neve é sentido por outras estações próximas, como a base
chilena Presidente Frei.
No leste e no sul, entretanto,
a perda de gelo continua, e em
ritmo forte, mostram outros
estudos feitos na região.
"Podem ser dois lados de
uma mesma moeda", cogita o
técnico do Inpe.
Lá fora, grupos de pesquisa
em ação neste verão antártico
sentem em suas rotinas de trabalho a meteorologia alterada.
Seja por causa da ausência dos
bichos que eles costumam estudar nesta época do ano, seja
por problemas técnicos que a
neve costuma causar.
No caso das aves, nesta época
do ano, cientistas esperavam
encontrar ninhos de skuas e
gaivotões, por exemplo, em
praias próximas. Mas os primeiros dias de pesquisa estão
sendo tocados em ritmo lento.
Por causa do grande acúmulo
de gelo, dizem, os bichos ainda
não montaram os seus ninhos.
O problema para o grupo dos
peixes é de ordem técnica. O gelo ainda prende a lancha de pesquisa da estação brasileira. Sem
ela, o deslocamento fica difícil.
Dentro de Ferraz, a neve fora
de hora também deixa sequelas. Os dois lagos de abastecimento de água do complexo estão congelados. Banho apenas
uma vez por dia, de preferência
bem rápido. Lavar roupa, por
enquanto, está proibido pelo
chefe da estação.
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