São Paulo, quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

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Alerta para desmate foi excesso, diz Lula

Segundo presidente, problema na Amazônia é um "tumorzinho" que foi tratado como câncer antes do diagnóstico

Para ele, ainda é cedo para culpar a soja e o gado pela derrubada de florestas, e as ONGs que pedem mais ação "precisam é plantar árvore"

Sergio Lima/Folha Imagem
O presidente Lula durante almoço ontem com o presidente de Timor-Leste, José Ramos Horta


LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou ontem que considerou exagerado o "alarde" feito em torno dos números sobre o aumento do desmatamento na Amazônia. Ao fim de um almoço no Itamaraty, ele se referiu à divulgação dos dados na semana passada como um "tumorzinho" que, antes do diagnóstico, foi tratado como câncer. Também criticou a postura das ONGs e disse que não dá para culpar "soja, feijão, gado ou sem-terra" pelo desmatamento sem antes investigar o que aconteceu.
"O que aconteceu, na minha opinião, eu não sou comunicador, posso estar errado... você vai no médico detectar porque você está com um tumorzinho aqui e, ao invés de fazer biópsia e saber como vai tratar, você já saiu dizendo que estava com câncer", afirmou.
Segundo Lula, como em 2006 o desmatamento tinha diminuído muito e em 2007 cresceu, "se alardeou que estava crescendo". Na entrevista, o presidente contou que na semana passada, em reunião no Planalto, questionou o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) se os dados divulgados significavam que o Brasil chegaria ao final do ano com um desmatamento maior.
"E ele falou: "Não". E eu falei: "Então por que vocês falaram'? Na verdade, eles queriam alertar de que a gente não pode se descuidar de controlar a Amazônia", concluiu Lula, insistindo que os dados divulgados tratam de um corte trimestral e que, segundo ele, até o final do ano podem ser revertidos.
O presidente evitou, entretanto, classificar de erro a postura de seus subordinados. E negou que a ministra Marina Silva (Meio Ambiente) tenha chamado a atenção dos dados para evitar cortes no orçamento de sua pasta. Na semana passada, o Inpe anunciou ter registrado a derrubada de 3.235 km2 de floresta na Amazônia nos últimos cinco meses de 2007. O Ministério do Meio Ambiente disse que a área real devastada entre agosto e dezembro pode ter alcançado o dobro disso.

Gado, soja e sem-terra
Ontem, Lula entrou na polêmica sobre as causas do desmatamento e defendeu os produtores de soja, pecuaristas e sem-terra. "Eu disse na reunião [no Planalto] o seguinte: a gente não pode culpar soja, feijão, gado, sem-terra, não pode culpar ninguém antes de a gente investigar o que aconteceu. Por fotografia você tem apenas a imagem, você não tem o que aconteceu". "Tivemos um problema de maior seca que pode ter sido um incentivo, o dado concreto é que foi um alerta. Isso mostra que o governo precisa acender todas as lanternas para não permitir que continue crescendo", acrescentou.
O presidente citou que o governador do Mato Grosso, Blairo Maggi - "um parceiro nosso" -, discorda dos números e do fato de a soja ser citada como culpada. Maggi é um dos principais exportadores de soja do mundo, mas Lula desconversou ao ser lembrado disso. "O que nós temos de ver? Temos que ir em cada Estado que teve problema, fazer levantamento, mapear, fotografar, conversar, detectar quem é o dono da terra. Se tiver alguém que fez uma queimada ilegal, eu defendo que esse cidadão sofra um processo para perder sua propriedade. As pessoas têm que aprender que no país tem lei e tem regras e que as pessoas precisam aprender."
Lula disse ainda que "topa brigar" com as ONGs que têm feito críticas ao governo e sugeriu que os integrantes destas organizações deveriam primeiro "plantar árvores no país deles". Foi confrontado com o fato de que as ONGs em questão são brasileiras, mas não respondeu. Também afirmou ter sugerido a Marina que fizesse reunião com governadores e prefeitos de locais com problemas, para traçar ação conjunta. "Tudo isso é controlável", disse.
À noite, em evento em São Paulo, Lula voltou a usar uma metáfora "clínica" para se referir ao desmatamento, desta vez trocando tumor por coceira. "É como se você tivesse uma coceira e achasse que é uma doença mais grave."


Colaborou ANA PAULA BONI, da Reportagem Local


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