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CNPq deve reforçar elos com empresas, afirma presidente
Iniciativa privada pode ter papel no custeio da formação de recursos humanos, diz chefe recém-empossado do órgão
Para Aragão, é preciso ter equilíbrio entre pesquisa básica e aplicada; físico critica quantificação rígida da produção de ciência
CNPq
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O físico Carlos Alberto Aragão, da UFRJ, acaba de assumir como novo presidente do CNPq
RICARDO MIOTO
DA REPORTAGEM LOCAL
A iniciativa privada será fundamental para aumentar os recursos do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico), principal órgão de fomento à pesquisa no país, diz seu novo presidente, Carlos Alberto Aragão.
Para ele, é ultrapassado pensar
que universidade e empresas
não combinam. Áreas como
energia e nanotecnologia devem ser prioridade, mas Aragão
evita dizer que as outras poderiam receber menos dinheiro.
Físico de partículas da UFRJ
(Universidade Federal do Rio
de Janeiro), Aragão critica métodos demasiado quantitativos
de avaliar a produção científica
e diz que não é possível saber se
bolsas de pós-graduação terão
reajustes. Leia a entrevista.
FOLHA - Vem faltando dinheiro para o
CNPq nos últimos tempos?
CARLOS ARAGÃO - O ano passado
foi um ano difícil. O orçamento
do CNPq, pela lei orçamentária, veio abaixo do que foi necessário. Começamos com R$
830 milhões. Ao longo do ano,
tivemos um reforço. Com dinheiro de outras fontes, executamos R$ 1,678 bilhão.
FOLHA - É pouco?
ARAGÃO - A pressão por novos
programas e mais recursos é
sempre muito grande. O CNPq
nunca trabalha com folga.
FOLHA - Mas melhorou para este ano?
Ou ainda há preocupação?
CARLOS ARAGÃO - Nós temos
preocupação, sim, com o orçamento, mas neste ano ele está
melhor do que no ano passado.
Já começamos com R$ 1,08 bilhão. É o maior orçamento que
o CNPq já teve. Com o espaço
que temos para correr atrás de
mais recursos, esperamos que,
no final, exista um aumento em
relação ao ano passado.
FOLHA - Pós-graduandos podem sonhar com aumentos nas bolsas, então?
CARLOS ARAGÃO - É sempre bom
subir. Estamos aqui estudando
o quadro atual e vamos ver o
que vai ser possível fazer no orçamento. A gente tem consciência de que os valores já foram reajustados, tem se procurado reajustar de forma mais
ou menos regular, sempre que
existe uma folga orçamentária.
Vontade sempre tem. Mas eu
não poderia dizer agora que
possibilidades nós vamos ter
em relação a esse ano.
FOLHA - O sr. considera os valores
atuais razoáveis?
CARLOS ARAGÃO - A bolsa de doutorado é de R$ 1.800, por exemplo. Esse valor depende muito
de onde a pessoa faz seu doutorado. Em uma cidade maior como São Paulo ou Rio, o custo de
vida é mais alto.
FOLHA - O CNPq deve investir mais em
ciência aplicada do que em ciência com
utilidade prática menos imediata?
CARLOS ARAGÃO - Não podemos
correr o risco de despir um santo para vestir o outro. Existem
áreas estratégicas, ligadas à
energia, ao clima, áreas importantes para a indústria, como a
nanotecnologia, áreas interdisciplinares, áreas que ainda são
incipientes no país. Claro que a
restrição orçamentária é um
dado concreto, em um momento em que você tem de tomar
uma decisão. Mas o investimento em uma não pode ser
feito em detrimento das outras.
FOLHA - Mesmo porque nunca sabemos de onde virá a inovação...
CARLOS ARAGÃO - Sim. Um terço
do PIB de países desenvolvidos
hoje em dia está ligado à mecânica quântica, que era algo considerado pesquisa ultrafundamental no passado.
FOLHA - Sobre inovação, o sr. fala bastante em aproximação com empresas.
CARLOS ARAGÃO - É importante
atrair as empresas, mesmo para
oferecer recursos para a formação de pessoal. Veja a exploração do pré-sal, por exemplo.
Para fazer isso você precisa de
gente qualificada, de cientistas,
de engenheiros. Senão vai ter
de importar gente. Temos de
convencer as empresas como a
Petrobras que elas vão ter de se
aproximar do CNPq.
FOLHA - Muita gente não gostava de
ouvir falar em iniciativa privada nas
universidades. Isso está mudando?
CARLOS ARAGÃO - Está havendo
uma mudança cultural. Leva
um certo tempo, mas a ideia
que existia na universidade de
que o pesquisador que trabalhava com uma empresa estava
fazendo algo condenável, desvirtuando a sua missão, é cada
dia mais ultrapassada.
FOLHA - Sobre avaliação dos docentes,
há como comparar pesquisadores que
trabalham em áreas diferentes utilizando métodos quantitativos?
CARLOS ARAGÃO -
É uma discussão global. Claro que as áreas são diferenciadas. Um sujeito de matemática
tem um ritmo diferente, talvez
leve mais tempo para publicar
um trabalho, por exemplo. A
avaliação não pode ser só quantitativa. Uma coisa que quero
fazer no CNPq é avançar nisso.
FOLHA - Mas o qualitativo não é subjetivo demais? Não permite a formação
de panelinhas de pesquisadores?
CARLOS ARAGÃO -
O quantitativo também pode
ser tão panelinha ou até pior,
não? As fraudes científicas começaram a aumentar na China
por quê? Por causa da pressão
para publicar. Então começa a
haver aquilo de o sujeito publicar junto com o outro, eu cito
você para depois você me citar
nos seus trabalhos. Tanto o
qualitativo quanto o quantitativo precisam ser considerados.
As avaliações do CNPq têm um
bom desempenho. Mas podem
ser aprimoradas, sim.
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