São Paulo, segunda-feira, 31 de maio de 2004

Próximo Texto | Índice

TECNOLOGIA

Sistema de computação distribuída criado há 5 anos para detectar alienígenas vai ajudar em outros estudos

Programa caça-ETs tem versão "genérica"

BRUNO GARATTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

Completando cinco anos, o projeto Seti@Home (setiathome.ssl.berkeley.edu) parece ter entrado na moda dos genéricos. Os mesmos cientistas responsáveis por esse programa caçador de ETs estão agora desenvolvendo um modelo que sirva a outras aplicações que também necessitam de quantidades brutais de processamento de computador.
Batizado de Boinc (sigla em inglês para Infraestrutura Aberta para Computação em Rede), o novo software, que pode ser copiado do endereço boinc. berkeley.edu, permite que cientistas criem projetos de computação distribuída com rapidez -como o Boinc é adaptável a qualquer tarefa, não é preciso criar "do zero" um software.
Além disso, o Boinc permite que os internautas participem em mais de um projeto ao mesmo tempo. "Você pode dedicar 50% do seu tempo a estudar o aquecimento global, 30% à busca por extraterrestres e 20% a pesquisas biológicas, por exemplo", explica o professor de ciência da computação David Anderson, que foi o criador do Seti@Home.
O Boinc ainda está sendo desenvolvido, mas é usado pelo Scripps Research Institute, nos EUA, para computar via internet resultados de simulações moleculares.

Busca por alienígenas
O Seti@Home foi uma das grandes inovações da pesquisa genericamente denominada Seti (sigla em inglês para Busca por Inteligência Extraterrestre), cujas bases foram lançadas em 1959. O esforço ficou famoso por causa do filme "Contato", de 1997, em que a atriz Jodie Foster interpreta uma cientista em busca de sinais de rádio transmitidos por alienígenas.
Ao contrário do filme, na vida real o projeto ainda não achou indícios de vida extraterrestre. No entanto, o Seti@Home pode ser considerado um sucesso tecnológico: com mais de 5 milhões de participantes, foi o precursor dos projetos de computação científica via internet e teve seu modelo copiado por várias instituições.
Os criadores do Seti@Home não fazem previsões sobre quando sinais alienígenas possam ser encontrados, mas publicaram um documento (setiathome.ssl.berkeley.edu/declaration.html) em que se comprometem a revelar uma eventual descoberta ao público assim que acontecer.
"Esperamos que alienígenas estejam transmitindo um "marco" -sinal que permanece o mesmo, ano após ano. Se nós captamos um sinal interessante [apenas] uma vez, pode ser ruído. Se o captarmos várias vezes, do mesmo ponto, a probabilidade de que seja ruído é reduzida", diz Anderson.

Potência
O Seti@Home surgiu por uma questão prática: analisar os sinais coletados pelos radiotelescópios do Seti é uma tarefa que exige muito poder de processamento. Em 1999, Anderson teve a idéia de usar os milhões de computadores ligados à internet, cuja capacidade fica ociosa na maioria do tempo, para fazer o processamento.
"Eu me lembro de um momento bem no começo, quando superamos [em dados computados, o que seria obtido em] mil anos de tempo de processamento computacional. Foi incrível -nós quase não conseguíamos entender", diz.
Hoje, o projeto já recebeu o equivalente a 1.935.015 horas de processamento. Somada, a potência de todos os micros conectados ao Seti@Home equivale à de um supercomputador que executa 65 teraflops (trilhões de operações por segundo). Isso é quase o dobro da velocidade do japonês Earth Simulator, a máquina mais rápida do mundo, com 35 teraflops. O Brasil está em 27º lugar na lista de participantes do Seti@Home, com 63 mil usuários.
Por enquanto, o mais perto que o projeto chegou de comunicações alienígenas foi identificar 2.568 "gaussianos", sinais cuja persistência poderia significar uma transmissão artificial.
Embora tenha ganho uma versão "genérica", o Seti@Home não deu certo no meio comercial: "As empresas que tentaram esse negócio todas faliram ou mudaram seu foco para o "enterprise grid computing" [uso de PCs em rede, mas dentro de uma companhia]".


Próximo Texto: Panorâmica - Cosmologia: Astrônomos calculam largura do Universo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.