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Petrobras estuda "sumir" com o CO2 da camada pré-sal
Técnica de reinjetar carbono em reservatório pode reduzir
o passivo ambiental da produção de petróleo e gás natural
Na área a ser explorada, gás
carbônico aparece em altas
concentrações; emissão
pode lançar na atmosfera 3
bilhões de toneladas de CO2
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Uma das maiores emissoras
de CO2 do país, a Petrobras
anuncia que planeja deixar de
lançar na atmosfera milhões de
toneladas de carbono presentes nos reservatórios de petróleo e gás da camada pré-sal. As
concentrações de carbono no
local são muito maiores do que
em outros campos petrolíferos.
Estimativas apontam que somente nas duas áreas com reservas delimitadas -os campos
de Tupi e Iara, onde há um acúmulo de até 12 bilhões de barris
de óleo e gás- existam 3,1 bilhões de toneladas de CO2, um
dos gases que contribuem para
o aquecimento do planeta.
Para evitar que todo o gás pare na atmosfera, a solução é investir em tecnologia. A companhia quer reinjetar o CO2 extraído do pré-sal nos próprios
reservatórios (veja à direita).
Segundo José Formigli, gerente da Petrobras para exploração e produção do pré-sal, o
acúmulo de CO2 nas reservas
da bacia de Santos é gigante e
seriam liberadas "milhões e
milhões de toneladas". Como o
gás carbônico é um contaminante para o gás natural e não
tem valor comercial, normalmente ele é lançado na atmosfera, afirma o gerente.
Desde o início deste mês, a
Petrobras realiza o teste de
longa duração de Tupi, uma
produção piloto para avaliar as
condições do reservatório que
já dispõe da nova tecnologia de
reinjetar no poço o CO2 extraído do fundo do mar.
Para atender uma exigência
ambiental da ANP (Agência
Nacional de Petróleo), a produção de petróleo na área está limitada. O teto é de 500 mil metros cúbicos, o que permite retirar 15 mil barris/dia do campo, metade da capacidade.
Formigli diz que a reinjeção
é viável e seu emprego se justifica pelo grande passivo ambiental que seria gerado caso o
CO2 fosse liberado. "Dentro de
alguns anos, será socialmente
inaceitável lançar tamanha
quantidade de carbono".
Isso porque a produção será
muito grande -somente numa
fase inicial do desenvolvimento do pré-sal, a Petrobras estima instalar 10 plataformas
com capacidade de produção
de 150 mil barris/dia.
Para a Petrobras, não é possível estimar as emissões de carbono do pré-sal, pois não se sabe a produtividade dos campos.
Alexandre Szklo, professor
de planejamento energético da
Coppe, calcula que as emissões
vão superar os 3 bilhões de toneladas somente com o carbono contido nos reservatórios. A
conta considera o percentual
de 10% a 15% de CO2 nos campos do pré-sal, concentração
bem maior do que os 5% das
demais reservas do país.
Nessa estimativa, não está
embutido o CO2 que só será liberado com a queima dos combustíveis em veículos, caldeiras, entre outros usos.
De acordo com Szklo, a técnica de reinjetar o CO2 em poços de petróleo é conhecida,
mas não é utilizada em escala
comercial. Esse, diz, é o maior
desafio da Petrobras.
Ao mesmo tempo, diz ele, a
empresa precisa encontrar alternativas para o CO2, pois, caso contrário, será uma das
companhias de petróleo que
mais emitem na Terra. E levará
ainda o Brasil ser obrigado a
cumprir metas de emissão como países de matriz energética
"suja", casos de China e EUA.
O país tem um problema grave com as emissões geradas pelas queimadas, mas não pelo
uso de energia, como ocorre na
maior parte dos países.
"Para o Brasil, as emissões do
pré-sal podem ser ruins, embora o óleo do pré-sal venha a
substituir o petróleo pesado da
bacia de Campos, cujo potencial de CO2 na queima dos derivados é maior. Para a Petrobras, certamente as emissões
vão crescer na área de produção de petróleo", diz
Mas para o mundo, isso não
deve ocorrer. "O petróleo do
pré-sal vai deslocar o consumo
de óleos mais pesados, mais poluentes, como as areias betuminosas do Canadá e o petróleo ultrapesado da Venezuela".
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