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GENÉTICA
Pesquisa em São Luís quantifica o grau de miscigenação da população
Maranhenses têm DNA amazônico
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Cientistas brasileiros identificaram a receita de como, na média,
se faz um maranhense. O resultado demonstra que, apesar de o
Maranhão hoje pertencer oficialmente à Região Nordeste, sua população tem muito mais cara de
Região Norte. Está escrito no
DNA, que não costuma mentir.
O estudo vem de um grupo de
pesquisadores da UFPA e da UFMA (universidades federais do
Pará e do Maranhão) que analisou a composição genética de 177
indivíduos de São Luís, capital
maranhense. A idéia era perscrutar o código genético dos sujeitos
à procura de pedaços de gene que
revelassem, logo de cara, de onde
eles tinham vindo.
Explica-se: os cientistas sabem
que há certas "versões" de determinados trechos do DNA humano que são de um jeito numa dada
etnia e de outro noutra. O grupo,
liderado por Ândrea Kely Ribeiro-dos-Santos, da UFPA, se concentrou em cinco trechos específicos. Então, pôde tirar a "receita"
de como -na média, é claro- se
produz um maranhense.
Segundo o estudo, publicado na
revista científica brasileira "Genetics and Molecular Biology"
(www.scielo.org), os maranhenses em geral são resultado de uma
mistura 42% européia, 39% indígena e 19% africana. A composição é muito semelhante à que já
foi observada em Belém, aproximando geneticamente o Maranhão da Região Norte e o afastando dos demais Estados do Nordeste -embora ainda seja cedo
para dizer que ninguém mais lá
tenha um perfil desse tipo.
"Até o momento existem poucos estudos com essa metodologia na região do Nordeste -só
Alagoas, Bahia e São Luís-, então não podemos realizar uma
boa comparação", explica Ândrea
Ribeiro-dos-Santos.
História verídica
De um modo geral, os dados se
encaixam bem no que já se sabia.
(E é bom lembrar que Maranhão
e Pará fizeram parte de uma mesma unidade administrativa até
1772.) A principal surpresa foi a
presença relativamente baixa de
componentes genéticos africanos.
No Nordeste, em geral, a presença
de fatores de origem negra é
maior e a presença de traços indígenas, menor. "Esperávamos
uma maior contribuição de genes
africanos, principalmente em razão da história de formação de
São Luís, da presença forte do negro", diz a cientista. "[O Maranhão] é o segundo Estado em número de quilombos."
O objetivo da pesquisa, mais do
que oferecer as receitas de como
fazer brasileiros de cada região, é
reconstruir ou apoiar o que historicamente se sabe a respeito da
colonização e evolução da população do país. "A motivação é poder recontar parte da nossa história, não registrada em documentos oficiais, utilizando a informação contida dentro da célula, o
DNA", diz Ribeiro-dos-Santos.
A geneticista, no entanto, vê outra razão, de cunho prático, para
tocar esses estudos, ainda mais
com toda essa discussão recente
sobre o estabelecimento de cotas
de vagas para certas etnias em instituições do ensino superior. "Esse tipo de trabalho, apesar de pesquisa básica, constitui o alicerce
de importantes decisões, principalmente no campo de política
social do país", diz a cientista.
"Por exemplo, qual a verdadeira
constituição genética hoje no
país?", ela se questiona. "Será que
um sistema de cotas deve ser implementado num país que apresenta essa constituição biológica-cultural ímpar, não-observada
em nenhum outro lugar do mundo de forma tão intensa? E, se
existir um sistema de cotas, como
não cometer os mesmos erros do
passado, excluindo os grupos indígenas e todos os outros grupos
necessitados?"
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