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Cientistas pedem mudança no painel do clima da ONU
IPCC precisa ser mais transparente sobre dúvidas que envolvem aquecimento, afirma grupo independente
Físico brasileiro está
entre os 12 cientistas
que participaram da
elaboração de relatório
apresentado ontem
SABINE RIGHETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança
Climática, na sigla em inglês)
precisa passar por mudanças
na sua gestão e na maneira
como coleta informações se
quiser se manter como a
principal referência a respeito do aquecimento global.
Essa é a conclusão de um
grupo independente de cientistas, que avaliou a atuação
do painel a pedido da ONU, à
qual o IPCC está ligado. O documento com o veredicto do
grupo foi divulgado ontem.
"O problema é que o IPCC
cresceu muito. Hoje são quase 2.000 cientistas envolvidos como autores e outros
2.000 revisores. É preciso
criar um mecanismo de gestão da produção do relatório", diz Carlos Henrique de
Brito Cruz, diretor científico
da Fapesp e membro da Academia Brasileira de Ciências.
Ele é o único brasileiro entre os 12 cientistas escolhidos
pelo IAC (InterAcademy
Council), órgão que reúne
academias de ciência mundo
afora, para avaliar o IPCC.
NOVOS ARES
Uma das sugestões do documento é a criação de um
comitê executivo que inclua
membros de fora da comunidade do clima.
A definição de tempo de
mandato no IPCC também é
mencionada. O atual presidente, Rajendra Pachauri,
está no cargo desde 2002. "É
bom ter circulação de pessoas para ter novos pontos de
vista", afirma Brito Cruz.
Do ponto de vista técnico,
o relatório traz recomendações para o sistema de revisão das informações e no tratamento das incertezas das
previsões climáticas.
"A revisão por pares é o
mecanismo da comunidade
científica para expor o trabalho à crítica. Num trabalho
como o do IPCC, isso precisa
ser feito com organização, senão críticas cruciais podem
se perder", diz Brito Cruz.
Um exemplo mencionado
pelo cientista, presente no relatório, é o caso das geleiras
do Himalaia. O IPCC afirmou
que tais geleiras desapareceriam em 2035, muito antes do
que outras fontes sugerem.
As informações foram
questionadas no processo de
revisão por pares, mas a crítica foi ignorada.
"Esses erros sem dúvida fizeram com que o IPCC perdesse credibilidade", disse o
coordenador do relatório,
Harold Shapiro, no lançamento do documento.
NAS MARGENS
O relatório também ressalta a necessidade de utilização, pelo IPCC, da ciência publicada em revistas científicas que não estejam em língua inglesa, como as da China e da América Latina.
A "literatura cinza" -que
não está publicada em revistas científicas (como teses ou
material de ONGs)- também
é abordada. "Deve haver normas para usar esse material",
destaca Brito Cruz.
"Podemos mudar o IPCC
para melhor, e vamos fazer
isso", disse Rajendra Pachauri. Ele afirmou que não
pretende renunciar ao cargo.
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