São Paulo, terça-feira, 31 de outubro de 2006 |
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Aquecimento pode custar 20% do PIB global até 2050
Conclusão é do maior relatório já feito sobre o impacto econômico do efeito estufa
MARCO AURÉLIO CANÔNICO DE LONDRES Um relatório encomendado pelo governo britânico e divulgado ontem demoliu o último argumento daqueles que negam os efeitos do aquecimento global -o de que custaria mais combatê-lo do que ignorá-lo. Segundo o "Relatório Stern", comandado por Nicholas Stern, ex-economista-chefe do Banco Mundial, os gastos para estabilizar a emissão de gases responsáveis pelo efeito estufa na atmosfera seriam equivalentes a 1% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial até 2050. A falta de ação e a manutenção dos atuais padrões de emissão, no entanto, poderiam reduzir o consumo global em aproximadamente 5% do PIB mundial, chegado a até 20% de redução, no pior cenário. "O que nós mostramos é que a magnitude do risco é muito grande e deve ser levada em consideração nos investimentos e no tipo de consumo que são feitos hoje em dia", disse Stern em entrevista coletiva ontem de manhã, em Londres. O premiê britânico, Tony Blair, afirmou que o relatório é "crucial" por mostrar que as evidências científicas do aquecimento global são "impressionantes e decisivas". "Este desastre não vai acontecer em um distante futuro de ficção científica, mas ainda durante a atual geração", disse Blair. "Os investimentos que fizermos agora renderão muitas vezes mais no futuro, não apenas em termos ambientais mas também econômicos." O relatório precede uma reunião das Nações Unidas sobre o clima, que começa na próxima sexta-feira, em Nairóbi (Quênia), cujo foco será encontrar um sucessor para o Protocolo de Kyoto, que expira em 2012. "Acordar os elementos-chave para uma ação internacional deve ser a prioridade de todas as áreas de políticas governamentais", destaca o relatório. "Não podemos esperar os cinco anos que foram necessários para negociar o acordo de Kyoto, simplesmente não temos tempo. Temos de progredir mais", disse Tony Blair. Para produzir o estudo de 700 páginas -o mais abrangente já feito sobre o impacto econômico do aquecimento global-, Stern e seu time visitaram países que têm papel determinante na questão climática, entre eles o Brasil. Stern destacou a importância de iniciativas como o uso de biocombustíveis -como o álcool-, em que o Brasil é líder. Uma das metas do governo britânico é ter pelo menos 5% dos veículos do Reino Unido funcionando com biocombustível até 2010. O economista também afirmou que a preservação das florestas é crucial e que os países desenvolvidos devem ajudar financeiramente nessa tarefa. "O desmatamento colabora mais para o aumento de emissões globais do que o setor de transportes, e é mais barato de evitar", disse Stern. O estudo confirma que países ricos são os maiores responsáveis pelas crescentes emissões de gases que causam o efeito estufa e, portanto, devem fazer os maiores esforços de redução. "É justo que os países desenvolvidos paguem de 60% a 80% dos custos para combater o aquecimento global", disse. Clima e segurança A chanceler britânica, Margaret Beckett, também participou da apresentação do estudo e destacou o impacto das mudanças climáticas na segurança internacional. O aumento da temperatura global e o conseqüente aumento do nível do mar, devido à expansão térmica do oceano e ao derretimento de geleiras de terra firme, causariam inundações que obrigariam até 100 milhões de pessoas a abandonarem regiões costeiras. No outro extremo, o aumento das secas em determinados países também criaria milhões daquilo que o estudo chama de "refugiados do clima". "Se não agirmos agora, teremos de enfrentar deslocamentos populacionais nunca vistos", disse Beckett. Apesar dos indicadores preocupantes e das previsões catastróficas, Nicholas Stern afirmou que a conclusão do estudo "é essencialmente otimista". "Ainda há tempo para evitar os piores impactos das mudanças climáticas, se agirmos agora e internacionalmente." Leia o Relatório Stern (em inglês) www.sternreview.org.uk Próximo Texto: Frase Índice |
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