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Fenícios deixaram marcas genéticas no Mediterrâneo
Nas 56 áreas estudadas, 1 em cada 17 homens tem DNA do povo navegador "extinto'
Para pesquisador brasileiro, co-autor do estudo, testes mostram como genética
pode ajudar a história a
estudar o destino dos povos
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Não que os historiadores
precisem da genética para ratificar suas informações. Mas o
sangue dos europeus e africanos que vivem na região do Mediterrâneo acaba de revelar que
os fenícios, que reinaram absolutos na região entre 2.000 e
3.000 anos atrás, continuam vivendo na mesma área que eles
conquistaram, após partirem
de cidades do atual Líbano.
Um em cada 17 homens das
zonas estudadas (veja mapa à
direita) tem material genético
transmitido dos fenícios, diz a
pesquisa. Eles estão principalmente em Chipre, na região
oeste da Sicília e no norte do
Marrocos, próximo ao estreito
de Gibraltar. Ao todo, 5.800
amostras, de 56 localidades
mediterrâneas, foram processadas. Todas elas estão atreladas ao cromossomo Y, transmitido apenas de pai para filho.
Diz a pesquisa, publicada hoje na revista científica "American Journal of Human Genetics", que um menino em cada
sala de aula desde Chipre até a
Tunísia provavelmente descende diretamente dos comerciantes fenícios, classe social
que mais ocupou as colônias da
antiga civilização.
"Este estudo traz à vida um
pedaço magnífico da nossa herança antropológica que havia
sido queimado ou esquecido",
disse o geneticista libanês Pierre Zalloua, um dos principais
pesquisadores do Projeto Genográfico e autor do trabalho
apresentado agora.
Para o brasileiro Fabrício dos
Santos, da Universidade Federal de Minas Gerais, a metodologia desenvolvida pelo grupo
do Projeto Genográfico, do qual
ele também faz parte, é eficiente para assumir que os cromossomos isolados na pesquisa são
mesmo de origem fenícia.
"É claro que há suposições.
Assumimos que os registros
históricos de ocorrência dos assentamentos fenícios no Mediterrâneo sejam verdadeiros. E
que os povos dessas regiões
com influência fenícia deixaram descendentes", disse à Folha Santos, que também é co-autor do trabalho. Todo o grupo de dezenas de cientistas esteve na Estônia para fechar os
resultados publicados agora.
Para descobrir as linhagens
genéticas dos fenícios - que
podem até ter chegado ao Brasil, segundo alguns historiadores- os cientistas compararam
o material de pessoas que moravam em zonas de influência
dos fenícios com outras que
nunca receberam a visita do antigo povo. Vários marcadores
genéticos puderam ser identificados a partir de muitas análises estatísticas.
À prova de romanos
Os estudos genéticos apresentados agora mostram que o
DNA dos fenícios sobreviveu
até mesmo à histórica guerra
contra os romanos, entre 149 e
146 antes de Cristo.
Cartago, que hoje estaria localizada nos arredores de Túnis
(Tunísia), acabou destruída e
os tempos de glória de uma das
principais colônias fenícias estava encerrado.
Segundo os cientistas, o excesso de marcadores genéticos
- definidos agora como fenícios- encontrados na região
costeira da Tunísia, comparado
com amostras do interior do
país, é bastante relevante.
"Isso sugere que a destruição
de Cartago pelos romanos não
eliminou o grupo genético definido como "cartaginês'", afirmam os autores da pesquisa.
Apesar de a pesquisa não ser
direcionada para os antigos
gregos, a metodologia genética
usada no estudo conseguiu encontrar um perfil genético para
caracterizar esse povo também.
E esses traços estão no DNA de
italianos e turcos modernos.
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