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Entrevista - António Damásio

Nossa vida política e social é parte da evolução biológica

EM VISITA A SÃO PAULO DURANTE PROTESTOS, NEUROCIENTISTA FALA SOBRE COMO A COLETIVIDADE MOLDOU O CÉREBRO HUMANO

RAFAEL GARCIA DE SÃO PAULO

O neurocientista português António Damásio, que desembarcou no Brasil em meio à onda de protestos, vê algum paralelo entre os acontecimentos de junho de 2013 e a abordagem com que ele próprio estuda a mente.

Damásio, que estuda o papel da emoção na racionalidade, afirma que o envolvimento emocional das pessoas com as reivindicações ajudou os protestos a tomarem grandes proporções ao mesmo tempo que faz com que percam alguma objetividade.

O cientista, professor da Universidade do Sul da Califórnia, rejeita, porém, uma visão pessimista na qual o impulso emocional das pessoas solapa o mérito do que dizem.

"É preciso pensar nas razões, porque as razões existem", disse. "Se há certas coisas que são altamente desproporcionais e se um grupo suficientemente grande de pessoas sente que há uma injustiça, a resposta emocional tende a ser maior."

Para o cientista, que está preparando um livro sobre a ligação entre a neurociência e fenômenos sociais, o aumento do desejo das pessoas por maior participação política é um caminho natural.

"Tudo aquilo que se passa na nossa vida social e política não é uma coisa inventada por nós, por políticos ou por jornalistas, faz parte da nossa evolução", afirmou anteontem em São Paulo, durante palestra no ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento.

Leia alguns trechos da entrevista que o neurocientista, autor de "E o Cérebro Criou o Homem", concedeu à Folha.

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As mídias sociais
Pode ser que eu esteja errado, mas eu diria que a rapidez e a manutenção dessas respostas [os protestos] não têm tanto a ver com a racionalidade ou a emoção. Têm a ver com a possibilidade de várias pessoas se movimentarem mais rapidamente e mais dentro de uma certa unidade de tempo e espaço através da comunicação digital, que é uma coisa que não existia antes e que há pouco tempo ainda não tinha esse poder.

O manual da psiquiatria
Falar em crise da psiquiatria é uma coisa exagerada. O que se pode discutir é se ter um manual de diagnósticos possíveis é a coisa mais prática e inteligente. Prático parece ser, mas eu não tenho grande gosto por esses manuais, e parece-me que há muitas coisas da realidade que escapam a esses manuais porque é extremamente difícil codificar doenças e síndromes.

Mapeamento cerebral
Mapeamento é uma palavra que está na moda. A ideia de que se possa mapear algo deixa as pessoas muito contentes, porque, se há um mapa, a gente sabe onde é que está e para onde é que vai --mas muitas vezes não sabe. Há um aspecto muito atrativo nesses termos, quase como um aspecto publicitário.

Sentimentos e emoções
O trabalho que estamos a desenvolver nesses últimos anos tem a ver com o fato de que as estruturas do cérebro que têm a ver com o sentimento são ligeiramente diferentes --e às vezes muito diferentes-- das estruturas que têm a ver com a emoção.

Ideia subversiva
Minha ideia [sobre o que nos torna humanos] pode ter sido subversiva, mas já não é. Há algumas coisas em que eu tenho trabalhado para as quais há amplos dados de que têm mérito. Pode haver detratores, mas essas ideias têm mérito e têm poder explicativo.

Arte e humanidade
Tenho muito interesse na sociedade e nos aspectos que de fato são unicamente humanos. Não só temos uma coisa chamada linguagem na nossa consciência, que é distintamente humana, mas também temos essa coisa extraordinária que é termos inventado artes. As outras criaturas vivas, embora tenham muita complexidade, não têm se preocupado muito com isso. (...) Mas o que é diferente nas artes? O que há nelas que contribui para o nosso bem estar?

Livros
Eu não faço livros por atacado, faço poucos e espaçados. Embora as pessoas digam que os livros explicam coisas e, portanto servem para divulgar a ciência, eu não escrevo livros para divulgar a ciência. Escrevo livros para esclarecer a mim próprio o que é um problema.


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