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Grupo faz mapa 3D do cérebro de amnésico

Henry Molaison, paciente mais estudado na história da neurociência, era incapaz de formar novas memórias

Estudo confirma lesão causada por cirurgia; trabalho permitirá estudo da anatomia do problema em detalhe

RAFAEL GARCIA DE SÃO PAULO

O paciente de amnésia mais estudado na história da medicina morreu há seis anos, mas um mapa 3D de seu cérebro permitirá que cientistas continuem estudando a lesão que fez sua memória parar no tempo, anunciaram ontem pesquisadores que preservaram o órgão.

Henry Molaison, conhecido na literatura médica apenas por suas iniciais, H.M., era portador de "amnésia anterógrada". Podia lembrar perfeitamente bem de sua vida antes até um determinado momento, mas totalmente incapaz de formar memórias permanentes depois daquilo.

Sua capacidade de criar novas recordações foi eliminada depois de ele passar por uma cirurgia experimental para epilepsia, em 1953. No procedimento, H.M. teve removidos os dois lados de seu hipocampo, uma estrutura cerebral cuja função não era bem entendida na época.

A operação fez com que o paciente passasse a viver o resto da vida como se estivesse acordando um dia depois da operação, em 1953.

A situação infeliz, porém, foi o que permitiu a neurocientistas compreenderem melhor a função do hipocampo na formação de memórias. Até 2002, H.M. continuou se voluntariando para estudos de neurociência. Em 1992, assinou um termo doando seu cérebro ao MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) depois que morresse.

VIDA PÓS-MORTE

Cientistas que receberam o material, em parceria com a Universidade da Califoórnia em San Diego, seccionaram-no em fatias de 70 micrômetros (espessura de um fio de cabelo) e fotografaram cada uma com uma câmera de resolução microscópica. As fotos foram então sobrepostas num modelo 3D virtual, apresentado hoje na revista "Nature Communications".

O novo mapeamento do cérebro de H.M. confirmou estudos anteriores feitos com ressonância magnética, técnica que vê o cérebro vivo, mas com menor precisão.

Parte do hipocampo do paciente tinha ficado intacta, apesar de desconectada do resto do cérebro. O modelo 3D também confirma que houve dano ao córtex entorrinal, a "porta de entrada" de informações do hipocampo.

Segundo Suzanne Corkin, do MIT, neurocientista que lidera o estudo e que examinou H.M. ainda em vida, o mapeamento permitirá a cientistas abordarem um mistério: o fato de ele ter mantido a capacidade de se emocionar após sua lesão cerebral.

Junto com seu hipocampo, H.M. teve removidas suas amígdalas, estruturas importantes no processamento de emoções. "Mas ele podia ficar triste, bravo e tinha bom senso de humor", diz Corkin. "Será que estruturas residuais que dão suporte a emoção ainda estão intactas em seu cérebro? Agora a ciência pode abordar essa questão."


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