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De volta ao trabalho

Primeira temporada de pesquisa científica na estação antártica brasileira após incêndio em 2012 traz sentimentos de trauma pelo acidente e de alegria pela retomada

GIULIANA MIRANDA ENVIADA ESPECIAL À ANTÁRTIDA

Quem chega à ilha Rei Jorge, na baía do Almirantado --porta de entrada da Antártida--, vê poucos indícios de que, em fevereiro de 2012, um incêndio destruiu 70% da base brasileira no continente.

Uma clareira vazia no centro do terreno, porém, é uma cicatriz evidente do acidente, que consumiu milhões de reais em equipamentos, destruiu amostras de pesquisa e tirou a vida de dois militares.

As atividades científicas foram retomadas na Estação Antártica Comandante Ferraz em novembro em contêineres pré-montados que servem de instalações provisórias.

A primeira temporada de trabalho do Proantar (Programa Antártico Brasileiro) após o acidente, porém, mexeu com as emoções dos cientistas.

"Era como uma segunda casa. Chegar lá e ver tudo vazio provocou uma dor muito grande", diz Jair Putzke, professor da Unisc (Universidade de Santa Cruz do Sul) que há mais de 25 anos faz pesquisas no continente.

Também veterana da Antártida, Theresinha Monteiro Absher, da Universidade Federal do Paraná, estava na estação no momento do acidente. "Foi um trauma. Mas estamos de volta, e os módulos emergenciais estão funcionando muito bem", avalia.

A pesquisa brasileira na Antártida é diversificada. Nesta operação de trabalho, há 25 projetos em andamento, que se subdividem em outros trabalhos menores.

Áreas como biologia e oceanografia ainda são maioria, mas há trabalhos envolvendo estudos atmosféricos, ambiente e arqueologia das primeiras ocupações humanas no continente.

Os cientistas brasileiros fazem, além do monitoramento ambiental, coleta de material para estudos, que é enviado ao país no fim de cada temporada de trabalho.

Por isso, na hora do incêndio, muitas amostras de pesquisas finalizadas acabaram destruídas. Equipamentos de pesquisa também foram queimados. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação ressarciu alguns deles.

"Mas o incêndio foi a melhor coisa que aconteceu para a ciência brasileira. As atenções se voltaram para o Proantar", afirma um dos principais cientistas no continente gelado que pediu para não se identificar.

A frase é polêmica, mas é uma opinião comum a muitos cientistas.

"Nunca estivemos tão bem no Proantar", diz Rosalinda Montone, professora do Instituto de Oceanografia da USP, que há 25 anos viaja para o continente. Para ela, os módulos emergenciais funcionam bem, apesar de limitações, como a eletricidade.

Outro veterano, Antônio Batista, da Unipampa (Universidade Federal do Pampa), destaca a importância de manter a estação como questão de soberania nacional.

Além da base, as operações do Brasil na Antártida contam com dois navios e um módulo de pesquisa no interior do continente.

Embora a Marinha, responsável pela base, e os cientistas comemorem o sucesso da retomada das pesquisas, paira no ar um misto de apreensão e ansiedade pelo futuro do trabalho no local, que em fevereiro completou 30 anos.

A pedra de gelo fundamental da nova base deveria ter sido colocada nas últimas semanas, mas não há previsão de quando isso vá acontecer. A reinauguração está prevista para 2016, mas nos bastidores já se dá como certo que haverá um novo adiamento.

"Os módulos emergenciais são um sucesso. Mas, como o nome diz, são para casos de urgência. A nova base trará muitas possibilidades de pesquisa", diz Frederico Muthz, comandante da Estação Antártica Comandante Ferraz.


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