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Cientistas querem popularizar muriqui

ONGs fazem campanha para que primata brasileiro se torne "celebridade mundial" e escape da extinção

Uma das apostas para aumentar a conscientização sobre o animal é torná-lo mascote da Olimpíada

GIULIANA MIRANDA DE SÃO PAULO

O maior primata das Américas é brasileiro, mas é pouco conhecido por aqui. Para piorar, está criticamente ameaçado de extinção.

Para mudar esse quadro, ambientalistas querem colocar o muriqui sob os holofotes e transformar o muriqui em uma "celebridade" internacional, a exemplo de seu companheiro de mata atlântica, o mico-leão-dourado.

"O muriqui é um animal incrível. Grande, bonito, sociável. Ele é o panda brasileiro", compara, em português fluente, o primatólogo americano Russell Mittermeier, presidente da ONG Conservação Internacional, que é uma das lideranças da iniciativa para popularizar o animal.

Uma das principais apostas dos ambientalistas para popularizar o muriqui é transformá-lo em mascote da Olimpíada de 2016, no Rio.

Várias celebridades, incluindo o ator Harrison Ford, vestiram a camisa da campanha para a escolha do símbolo olímpico, que deve acontecer ainda neste ano.

No entanto, a escolha do muriqui no lugar de seu concorrente, o mico-leão-dourado, pode não ser garantia de dias melhores. Ambientalistas dizem que pouca coisa mudou desde que o tatu-bola virou mascote da Copa do Mundo de 2014.

Para Mittermeier e outros ambientalistas, o animal reúne todos os pré-requisitos para se tornar um símbolo do Brasil, como os pandas gigantes são na China e os gorilas, na África. "Há muito potencial para organizar o ecoturismo em torno dele, difundindo a espécie e auxiliando na preservação."

O muriqui chega a ter 1,2 metro e tem uma aparência bastante marcante: cabeça arredondada, cara achatada e uma longa cauda, maior que seu corpo. Há duas espécies: o muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides) e o muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus), que têm pequenas diferenças. Ambas estão muito ameaçadas, mas a situação das espécies do norte é um pouco mais crítica. Estima-se que haja 1.700 indivíduos no país.

OBSERVAÇÃO

O ecoturismo e as visitas de observação já são descritas no plano nacional para a conservação dos muriquis, lançado em 2011 pelo ICMBio, órgão do Ministério do Meio Ambiente. Mas essas iniciativas ainda são tímidas, especialmente na esfera pública.

"Já existe procura para a observação, mas ela ainda é limitada. Muitos estrangeiros se interessam pela visita. É algo que tem um grande potencial de dar certo, mas a implementação não é tão simples", explica Marcello Nery, da Preserve-Muriqui (Sociedade para a Preservação do Muriqui).

"Os pesquisadores já viram que o muriqui é diferente de outros primatas. São mais solidários, se relacionam bem com outras espécies e não são tão territorialistas. Observar essas características na natureza é muito interessante", completa Beto Mesquita, diretor para a mata atlântica da Conservação Internacional.

Dar mais força ao ecoturismo de observação é um dos objetivos da organização, que está ligada à Reserva Particular do Patrimônio Natural Feliciano Miguel Abdala, em Caratinga (MG), onde existe a maior população conhecida do muriqui-do-norte.

Os estudos sobre os muriquis e os trabalhos para a conservação da espécie começaram há mais de 30 anos na região, e hoje o município de Caratinga está engajado nas iniciativas para preservar o habitat do animal. Segundo Nery, há um desejo dos próprios moradores de ver o turismo ser fomentado.

"Além de ser uma forma de tornar o muriqui mais conhecido, a renda gerada seria convertida para ampliar ainda mais a preservação."

O grande porte do muriqui também faz com que ele necessite de áreas grandes de floresta, algo que é cada dia mais difícil de encontrar na mata atlântica, o bioma mais desmatado, ameaçado e fragmentado do Brasil.


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