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Babilônia no divã
Conhecimento de neurologia e psiquiatria na Mesopotâmia de 3.000 anos atrás só foi superado no século 18, indicam relatos da época
Uma série de tabuletas de argila com inscrições babilônicas traduzidas e interpretadas por uma dupla de pesquisadores britânicos revelou que, cerca de 3.500 anos atrás, o povo que habitava a Mesopotâmia tinha um conhecimento de neurologia e psiquiatria que rivalizava com o dos últimos três séculos.
A riqueza dos registros só foi revelada com detalhes após o trabalho de James Kinnier Wilson, assiriólogo da Universidade de Cambridge, e Edward Reynolds, neurologista do King's College de Londres.
Os dois começaram a trabalhar juntos há 25 anos, quando o historiador contou ao médico sobre uma tabuleta de escrita cuneiforme adquirida pelo Museu Britânico que descrevia sintomas de epilepsia em detalhes. A partir daí ambos começaram a vasculhar coleções de inscrições médicas babilônicas e descobriram que aquele povo tinha observações clínicas de transtornos neurológicos e mentais extremamente avançadas para a época.
"Os gregos e romanos se tornaram, depois, muito mais versados em anatomia, mas eles não descreviam esses transtornos com os detalhes que os babilônicos faziam", disse Reynolds à Folha.
As descobertas da dupla foram publicadas pelo periódico britânico "Brain".
Apesar de conseguirem descrever o quadro clínico de vários transtornos psiquiátricos, os babilônios ainda praticavam a medicina com um bocado de superstição. Problemas mentais eram em geral atribuídos a espíritos ou causas sobrenaturais. Tratamentos eram frequentemente rezas ou encantos.
Babilônios também manifestaram pela primeira vez uma tendência a separar a neurologia da psiquiatria, as quais tinham diferentes tipos de curandeiros encarregados, os asu e os asipu.
"Os asu lidavam com bandagens para tratar feridas, como um médico generalista", conta Wilson. "Já os asipu eram provavelmente como sacerdotes. "
O conhecimento babilônico sobre essas disciplinas só começou a ser superado muito recentemente. "Até onde sabemos, foi só na literatura médica europeia dos séculos 18 e 19 que descrições clínicas comparáveis à dos babilônios reemergiram, reforçadas então pela neuropatologia e, depois, pela psicopatologia", diz Reynolds.