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Osvalinda, assentada

Ameaçada, líder de assentamento resiste à pressão madeireira

Ilhada por lotes de fazendeiros, ela diz não ter medo de morrer como a freira Dorothy

DO ENVIADO ESPECIAL A NOVO PROGRESSO (PA)

Osvalinda Maria Marcelino Alves Pereira, 45, e Daniel Alves Pereira, 43, se conheceram e casaram no Paraná. Mudaram para Itanhangá (MT) nos anos 1990 atrás de terra para plantar. Saíram de lá em 2001, quem diria, fugindo da fumaça. Compraram uma moto e 16 dias depois chegaram a Trairão (PA).

Na igreja de Trairão ouviram que dava para comprar um lote de 100 hectares (cada hectare tem 10 mil m², pouco mais que um campo de futebol) no assentamento Areia 2. Ficava a 40 km da BR-163, mas eles toparam.

O Areia 2 faz parte do Projeto de Assentamento Areia. Dos seus 200 km², cerca de 30 km² são explorados por madeireiros e há ocupação ilegal de lotes por fazendeiros.

Das 275 famílias assentadas, só 73 têm títulos e podem obter crédito para agricultura familiar (Pronaf). Ao menos 15 assassinatos foram cometidos entre 2010 e 2012.

Diante das dificuldades, muitos assentados desistiram do Areia 2. Mesmo sem títulos, vendiam as terras só com base em documentos particulares (o que é crime). À medida que acumulavam lotes, os compradores pressionavam os colonos pioneiros cujas terras ficavam ilhadas.

É o arranjo típico que alimenta a violência na Amazônia. João Chupel Primo foi assassinado em outubro de 2011 após denunciar a extração ilegal de madeiras nobres como o ipê de unidades de conservação (parques e florestas nacionais, por exemplo) no entorno da BR-163.

Osvalinda tornou-se líder da associação de mulheres no Areia 2. No ano passado, começou a receber ameaças. Madeireiros foram com capangas armados à sua casa e ofereceram dinheiro em troca de apoio para impedir a entrada do Ibama no assentamento. Mencionaram a freira americana Dorothy Stang, morta a tiros em 2005.

"O dinheiro de vocês não faz febre pra mim não", conta ter dito Osvalinda. "Se eu morrer como a irmã Dorothy, morro feliz. Mas prefiro morrer de problema meu, não de bala de vocês", afirma ter retrucado. Ela diz que não deixa seu sítio. "Tudo que eu tenho está aqui."


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