Nave se espatifa com sucesso em Mercúrio
Sonda da Nasa viajou 11 anos; planeta atinge até 430 ºC, mas tem crateras geladas onde o Sol não bate --e onde há água
Missão mostrou que planeta mais próximo do Sol tem também um misterioso material escuro, talvez orgânico
O fim da missão Messenger, na semana passada, marcou o encerramento do primeiro reconhecimento completo do planeta Mercúrio.
Apesar do sabor agridoce que envolve o inevitável fim de qualquer missão espacial, a Nasa preferiu realçar o enorme sucesso da sonda.
Ao longo dos últimos quatro anos, a Messenger transformou o que até então era o "patinho feio" do Sistema Solar em um planeta cheio de mistérios, guardião de segredos sobre os processos de formação planetária e quiçá da origem da vida na Terra.
DESCONHECIDO
Até então, apenas uma outra espaçonave havia passado por lá --a americana Mariner-10--, e ainda assim sem chegar a entrar em órbita do pequeno mundo.
Tudo que tínhamos sobre Mercúrio antes da Messenger equivalia a um mapeamento de cerca de 45% da superfície, feito em baixa resolução.
Observá-lo com telescópios também não é fácil. Como ele é o planeta mais próximo do Sol, sua posição no céu nunca se distancia muito da do astro-rei.
O telescópio Hubble, por exemplo, nunca pôde ser apontado para Mercúrio, pelo risco de que a luz solar danificasse sua delicada óptica.
Ainda assim, observações feitas em rádio pareciam sugerir que Mercúrio abrigava gelo de água no fundo de crateras polares. E essa foi uma das constatações mais importantes feitas pela Messenger.
É estranho imaginar que num mundo tão perto do Sol seja possível haver gelo.
Embora durante o dia mercuriano as temperaturas atinjam cerca de 430 graus Celsius, no fundo dessas crateras polares o Sol nunca bate.
E como não há atmosfera para transportar o calor, à sombra é sempre muito frio.
Imagina-se que o gelo tenha ido parar lá pelo impacto de cometas, assim como grandes quantidades de material escuro, provavelmente orgânico, que o recobrem no fundo desses buracos.
Compostos orgânicos e água são basicamente os dois ingredientes mais importantes para a vida, e especula-se que cometas e asteroides também possam tê-los trazido para a Terra no passado.
Assim, ao analisar o material nas crateras polares de Mercúrio, podemos talvez dar uma olhada na química que foi precursora da vida aqui.
Em entrevista coletiva, Sean Solomon, cientista-chefe da missão, indicou que esse pode ser o próximo passo.
"Eu adoraria saber o que é aquele material escuro junto com o gelo de água. É um palpite informado que ele seja material orgânico", disse. "Um módulo de pouso poderia nos dar essa resposta."
PRINCIPAL REVELAÇÃO
Para Solomon, contudo, a principal revelação feita pela Messenger foi a de que diversos elementos voláteis, que em tese não deveriam existir em Mercúrio, estão lá.
Isso obrigará os cientistas a voltar às pranchetas para compreender o processo que levou à formação dos planetas solares.
Uma coisa é certa: Mercúrio nunca mais será visto da mesma maneira depois da Messenger, lançada em 2004.
Com seu combustível completamente esgotado, a pequena espaçonave impactou contra a superfície daquele mundo conforme o previsto pelos engenheiros, abrindo uma cratera com estimados 16 metros de diâmetro.
Sem ela em órbita, não temos como identificar essa nova cratera agora. A espera deve durar até 2024, quando a missão nipo-europeia BepiColombo entrará em órbita de Mercúrio. O lançamento está marcado para 2017.