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Bahia abre fábrica de Aedes transgênico

Inseto está sendo usado em experimentos pioneiros para substituir o mosquito selvagem e reduzir a epidemia

Machos geneticamente modificados geram só larvas inviáveis, o que diminui a população do inseto, dizem cientistas

JOHANNA NUBLAT
DE BRASÍLIA

Uma nova fábrica, inaugurada hoje em Juazeiro (BA), vai ampliar em oito vezes a produção nacional do mosquito transgênico da dengue.

Esse pode ser mais um passo para expandir, no país, uma tecnologia que reduz a circulação do Aedes aegypti.

Os machos do mosquito são modificados para transmitir genes letais à sua prole. O Aedes acaba morrendo ainda na fase de larva, diminuindo a população do mosquito, que é vetor da dengue.

Até aqui, 500 mil A. aegypti eram "fabricados" por semana e soltos em bairros de Juazeiro por pesquisadores da Moscamed (organização social ligada aos governos federal e da Bahia) e da USP.

Segundo os cientistas, essa experiência já é a mais ampla no mundo com os Aedes transgênicos, testados em menores proporções nas Ilhas Cayman e na Malásia.

A ideia agora é aumentar a produção nacional para 4 milhões semanais e soltá-los largamente em Jacobina (BA), cidade de 79 mil habitantes, possivelmente em setembro -antes da multiplicação dos insetos com mais chuvas.

Segundo Aldo Malavasi, diretor da Moscamed, o teste em Juazeiro gerou uma redução de até 85% na população selvagem do mosquito.

"Sairemos da fase de testes, que já comprovam que realmente há redução populacional, e vamos partir para o piloto em uma cidade de médio porte", diz Malavasi. A nova fábrica custou R$ 1,7 milhão ao Estado da Bahia.

A tarefa que vem a seguir é relacionar a redução da população de Aedes com números mais baixos de dengue, diz Margareth Capurro, professora da USP que desenvolveu a parte técnica do estudo a partir de uma linhagem produzida no Reino Unido.

PRINCIPAL EPIDEMIA

A dengue é classificada pelo ministro Alexandre Padilha (Saúde) como "a principal epidemia urbana do país". Jacobina está entre as dez cidades com piores índices de dengue na Bahia e registrou duas das 19 mortes do Estado até 10 de junho, segundo dados do governo baiano. No país, foram 74 mortes entre janeiro e abril, diz a Saúde.

A ideia é, no futuro, ampliar a experiência para outras cidades que sofrem com dengue. Para tanto, explica Malavasi, será preciso avançar em entraves como a forma de liberação -hoje terrestre, o que limita a ação.

"Podemos conseguir a eliminação [do mosquito] em vários locais, como no semiárido. Mas, quando penso na Berrini [avenida próxima à marginal Pinheiros, em São Paulo] ou nos morros do Rio, me dá certo arrepio", diz, referindo-se aos desafios de disseminação do inseto.

Capurro trata o Aedes transgênico como uma "tecnologia adicional", que reduz o uso de inseticidas químicos e diminui o impacto ambiental, mas deve ser combinada a outras ferramentas, como controle de criadouros e campanhas com a população.

A mesma opinião tem o ministro Padilha, que vai acompanhar in loco a inauguração da futura biofábrica.

"O combate à dengue exige a combinação de ações de forte vigilância, controle do vetor e atenção à saúde. Sempre teremos de trabalhar com a combinação dessas estratégias", argumenta o ministro.

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