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Conselho federal condena práticas da medicina antienvelhecimento

Uso de hormônios para esse fim não tem base científica, diz CFM

DE BRASÍLIA

Um parecer divulgado ontem pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) condenou o uso de hormônios para tentar atrasar o envelhecimento.

A prática, conhecida como antienvelhecimento ou "antiaging", envolve a oferta de hormônios a pacientes que têm níveis dessas substâncias normais para sua idade.

A ideia é que, junto com vitaminas e antioxidantes, a dose extra desses hormônios estimule o organismo a responder como fazia no passado -por exemplo, recompondo massa muscular perdida.

Entre os hormônios usados com esse fim estão o do crescimento, a melatonina e o cortisol. Em alguns casos, são oferecidos hormônios "bioidênticos", com estrutura igual ao do hormônio natural e que seriam menos danosos.

Para o conselho, não há comprovação de vantagens da prática, usada de forma crescente tanto por jovens adultos quanto por idosos.

"Não temos evidências de que o uso desses hormônios em pacientes normais, para modulação do envelhecimento, tem base científica, mas temos o indicativo de que causam malefícios à saúde", afirmou Maria do Carmo Lencastre, da câmara técnica de geriatria do CFM.

Os risco vão de efeitos colaterais simples até o desenvolvimento de doenças graves, como câncer, diz Carlos Vital, 1º vice-presidente do CFM. Para ele, a prática é "propaganda enganosa".

A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia tem visão semelhante, como publicado pela Folha em maio.

"Não existe, à luz da ciência atual, nenhuma maneira de retardar o envelhecimento com administração de substâncias", diz Salo Buksman, diretor da sociedade.

Nos próximos meses, o conselho deve aprovar uma resolução proibindo a prática hormonal do antienvelhecimento. Indiretamente, ela já é desaconselhada hoje pelo Código de Ética médico, que proíbe a prática de técnicas sem comprovação científica. Nos últimos quatro anos, cinco médicos foram cassados por essa prática.

DOSES CRITERIOSAS

Edson Luiz Peracchi, presidente da Academia Brasileira de Medicina Antienvelhecimento, defende a administração criteriosa e progressiva de determinados hormônios e vitaminas e rejeita a ideia de "rejuvenescimento".

"Sua avó não vai deixar de ter 90 anos, mas vai ter uma condição metabólica interna compatível com 80 anos, 75, 60. E o médico sabe o quanto ela suporta de estímulo."

Peracchi diz que, nos próximos anos, as evidências científicas da prática farão o CFM rever sua posição. E lamenta que, até lá, os médicos que se dedicam a ela sejam vistos como "párias sociais".

(JOHANNA NUBLAT)

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