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'DNA pode enfrentar tráfico de crianças'

Pesquisador espanhol ajuda países a montar bancos de dados genéticos para identificar menores desaparecidos

Especialista de Granada que já trabalhou no FBI está negociando a implantação do sistema no Estado da Paraíba

Arquivo pessoal
José Antonio Lorente
José Antonio Lorente

RODRIGO RUSSO
DE LONDRES

O espanhol José Antonio Lorente, 51, diretor do Laboratório de Identificação Genética da Universidade de Granada, está apostando no DNA como uma ferramenta para identificar crianças que moram nas ruas e para combater o tráfico de pessoas.

Lorente criou, em 2004, a fundação DNA-Prokids, que auxilia países interessados a implementar bancos de dados de DNA para identificar menores desaparecidos.

Em entrevista à Folha, o médico e pesquisador, que passou uma temporada de estudos no FBI nos anos 1990, diz que a Paraíba deve se tornar o primeiro Estado brasileiro a adotar a ideia.

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Folha - Quando e por que decidiu criar a DNA-Prokids?
José Antonio Lorente - Tive a ideia entre 2002 e 2004, enquanto visitava países na América Latina e na Ásia e percebi que ninguém estava fazendo nada para identificar crianças desaparecidas. A DNA-Prokids surgiu depois de uma visita ao Peru, em 2004, e começou a funcionar como projeto-piloto na Guatemala, no mesmo ano.

E como funciona?
Nós apenas apoiamos os países a criar esses bancos de dados com DNA, que sempre são nacionais. Não somos donos dos dados. Oferecemos a tecnologia para que sejam gerados bancos de dados de DNA de pais que perderam seus filhos. Assim, quando as crianças forem encontradas, pode-se cruzar essas informações, mesmo depois de anos de desaparecimento.

Como seu programa auxilia a combater o tráfico internacional de menores de idade?
A principal razão para que crianças e adolescentes sejam facilmente explorados é que eles não são corretamente identificados. Eles não sabem, ou mal sabem, quem são, de onde vieram.
Quando crescem, longe de suas cidades, famílias e pessoas que lhes dão amor, caem de forma muito fácil em organizações criminosas, ligadas a prostituição, drogas etc.
Se pudéssemos parar esse processo ainda em seus estágios iniciais, se pudéssemos saber quem são essas crianças, isso ajudaria muito.

De que maneira a genética deve ser usada em casos de adoção?
Ela poderia ajudar muito. Há diversas crianças que são deixadas para adoção sem que haja a comprovação de que a mulher que entrega a criança é sua mãe biológica.
Assim, em muitos países as crianças são roubadas e entregues a mulheres jovens que não são mães desses bebês, mas que dizem que são e alegam não ter recursos para alimentá-los porque têm outros filhos para criar.
Uma vez que o bebê é entregue, e isso se torna uma adoção legal, a mãe pode receber de US$ 1.000 a US$ 3.000 para ajudá-la a sustentar o restante da família. Isso se tornou um tipo de negócio.
Por outro lado, temos adoções ilegais: famílias ricas que não querem esperar por anos para ter um bebê, e querem escolher sua idade, sexo, aparência...
Elas entram em contato com organizações criminosas que oferecem bebês roubados e depois criam documentos falsos. Isso poderia ser evitado se uma identificação genética fosse exigida.

Há exemplos de países bem-sucedidos no combate à adoção ilegal?
Devo mencionar a Guatemala, onde uma lei obriga as autoridades a analisar o DNA de menores e compará-los com o banco de dados.

Como estão as negociações para implementar o DNA-Prokids no Brasil?
Estamos próximos disso. Já mantivemos contato com a Polícia Federal e com uma série de Estados, dos quais o mais avançado é a Paraíba. Planejo uma visita a Brasília e à Paraíba, possivelmente ainda neste ano, e devo encontrar representantes do Ministério da Justiça e da Comissão de Direitos Humanos.

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