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Dieta vegana causa carência de nutrientes

Não me animei a transformar minha cozinha numa farmácia, nem minhas receitas culinárias em receitas médicas

Como já era o último dia de dieta, dei-me o direito de encerrar os trabalhos com uma suculenta dobradinha

JOSIMAR MELO CRÍTICO DA FOLHA

Procurei passar minha semana vegana em quatro ambientes: minha cozinha, restaurantes veganos, restaurantes com alguma inclinação natural e restaurantes comuns.

Em casa, fiz um macarrão com tomates, alho, azeite, pimenta calabresa, ervilha-torta crocante e purê caseiro de alcachofra (que dá sabor e encorpa o molho sem precisar de cremes). Fácil.

Entre os restaurantes, dei-me bem no Le Manjue, que sem ser vegetariano adere a alimentos funcionais e orgânicos. Escolhi uma moqueca de shiitake e palmito com molho exuberante, muito bom.

Acontece, porém, que mesmo respeitando as restrições veganas, esses pratos não resolvem a desnutrição provocada pela ausência de produtos animais.

Vegetariana (mas consumidora de ovos e laticínios), a nutricionista Alessandra Luglio atende desde maratonistas até veganos subnutridos e com olheiras.

"Tirando os produtos animais da dieta normal causamos uma carência de nutrientes fundamentais: proteína, cálcio e vitamina B-12, além de ferro e vitamina D", explica. "É preciso achar substitutos que os reponham."

Raros grãos fornecem sozinhos as proteínas animais de que necessitamos. Para fabricar essas proteínas, temos que ingerir vários ingredientes (cereais, castanhas, leguminosas) numa só refeição.

Não me animei a transformar minha cozinha numa farmácia, nem minhas receitas culinárias em receitas médicas, nem a gastar fortunas com a indústria de suplementos veganos. Preferi viver esta experiência vegana mais radical em restaurantes especializados.

Quando o chef francês Alain Passard prepara seus magistrais legumes, ele não está preocupado em enfiar quinua na receita para salvar a vida de ninguém. E realiza obras de arte. Mas constatei que um restaurante vegano, que sabe que seus clientes podem ficar subnutridos, tem que encher o prato de substitutos da carne.

No modesto e simpático Broto de Primavera, da Liberdade, onde reina um ar pungente de paz, me foi oferecido um... "lombinho vegetal". Gostei da ideia (é miolo de jaca cozido), mas não da patética garfada: precisamos respeitar os animais, não chamem isso de lombinho! (O cuscuz estava gostoso; o arroz e feijão não tinham gosto.)

O Nectare, em Pinheiros, também emana uma aura tranquila, e exibe uma vistosa mesa de saladas. Mas o "peixe de soja" nem de longe lembra pescados (parece quibe frito pastoso e sem graça).

Mas, enfim, a soja não estava ali para dar gosto nem prazer. São apenas ordens médicas. Também pedida, a seca moqueca de banana não salvou o almoço.

Também tentei ser vegano em restaurantes comuns. Sentei no Attimo e procurei algum prato compatível com minha triste sina. Mas fora saladas... nada servia. Mesmo as massas, têm todas um raguzinho de carne aqui, uma mozarela ali, uma linguicinha... Delícia.

Como já era o último dia de dieta, dei-me o direito de encerrar os trabalhos com algo mais convencional (para mim, ao menos): uma suculenta dobradinha. A volta à natureza humana integral.

Balanço curioso: com toda a provação, não emagreci nada. Em uma semana de dieta vegana, só perdi exatos sete dias.


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