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Tradição alimentar é destaque do Slow Filme
Uma das películas do festival de cinema e alimentação, em Goiás, questiona a marginalização do queijo feito de leite cru
Além de 'Esses Queijos que Assassinamos', evento traz 'Ouro Negro', que mostra cafeicultores na Etiópia
Sem tortelli, não há Natal para uma família do norte italiano. Na Calábria, a moça aceitou se casar depois de ser seduzida por pimentões. Em outro continente, agricultores etíopes torcem para que dobre o preço do saco de café --e ele chegue a US$ 0,57.
Já na França, dizem que o queijo tradicional corre o risco de virar "queijo-kani", sem seus sabores autênticos.
Tudo isso --em síntese, a valorização da tradição alimentar-- passou pelo 5º Slow Filme, o Festival Internacional de Cinema e Alimentação promovido pelo movimento Slow Food até domingo (14), em Pirenópolis (GO).
O conflito entre o ofício tradicional e as pressões pela produção massificada esteve mais aguçado no documentário "Esses Queijos que Assassinamos" (França, 2007).
Ele questiona a marginalização do queijo feito de leite cru (não aquecido nem pasteurizado) sob o argumento da segurança alimentar --debate que existe também no Brasil. E critica a troca desse queijo artesanal por "produtos brancos e redondos".
Também teve destaque "Ouro Negro -- Acorde e Sinta o Aroma do Café" (Grã-Bretanha, 2006), que expõe a miséria de cafeicultores da Etiópia em contraste com os altos valores pagos por uma xícara de café em outros locais.
Outros filmes mostraram a importância dada por algumas culturas a alimentos e formas de preparo. "Neste ano estivemos totalmente focados no Slow Food, mas num guarda-chuva maior que são as culturas locais", diz o curador Sérgio Moriconi.
Como contraponto à terra e à mesa tradicional, a mostra exibiu "O Sonho -- El Celler de Can Roca" (Espanha, 2014). O título arrancou suspiros ao mostrar a preparação e o desfecho de um jantar dos irmãos Roca, que encabeçam o restaurante que dá nome ao filme --e é o segundo melhor do mundo.
O filme mostra a pretensão de transformar a comida, já conceitual, em uma experiência multissensorial, acompanhada de música (com toques de ópera) e imagens que atordoam (pela beleza ou força).