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Nina Horta

Panelas para tudo

Jogaram fora uma panela na qual minha mãe fazia um bacalhau, e nunca mais acertamos o prato

Mona Dorf, recebi seus e-mails, sim, pedindo ajuda para comprar as panelas mais adequadas. E bem para quem foi perguntar! "Embarras de richesses!" Posso escrever um livro sobre panelas. Panelas para o sítio, panelas para a casa, panelas para nada, panelas, panelas.

No meio do panelório tenho quatro escondidas. Só minhas. Não sei a marca, parecem um alumínio fortíssimo, são leves, não esquentam o cabo, italianas. Cheguei a um apartamento em Nova York, um flat, moça ainda, louca para ficar lá um mês cozinhando para o marido. Fui até a Hammacher Schlemmer e comprei uma frigideira, um caldeirãozinho e duas panelas normais, uma mais baixa com asas e uma de cabo.

Só me lembro, com remorso intenso, da cara que Silvio fez quando cheguei. "Mas, Nina, estas panelas foram mais caras que toda a viagem!" O que não imaginávamos é que estariam como novas quase 40 anos depois.

Pois é, vai receber uma resposta diferente de cada pessoa a que perguntar. Por que a panela depende do cozinheiro. Quem vai cozinhar, você? Para usar todo dia, para alguém que não está cozinhando com muito carinho, as panelas melhores são as simples, de alumínio, as mais baratas. Elas amassam, ficam velhas e trocamos. Mas são boas e frequentemente nos apaixonamos por uma delas, de tampa e fundo tortos.

Jogaram fora uma panela amassada na qual minha mãe fazia um bacalhau e, pronto, nunca mais acertamos: o peixe solta água, a batata cozinha mal. A sabedoria estava na panela. As de cobre são lindas, as que melhor conduzem o calor, mas pesadas e de difícil manutenção para não azinhavrarem. Pode cozinhar numa comum, bem horrorosa, e levar à mesa na de cobre, daquelas grossas e caras de matar, para impressionar as visitas e segurar o calor, também.

Atualmente, aqui em casa servimos a comida na panela. Então tem de ser bonita. Como somos pouquíssimos, usamos as muito pequenas --prefiro as de ferro. São finlandesas, desenho simples e lindo (compradas na feira escandinava, no clube Pinheiros, sempre em novembro). Lá na feira havia o que há de bom, de melhor, o último grito em panelas. Caras. Encaixadas uma na outra, que não tomam espaço, leves.

O problema com as de ferro brasileiras é que enferrujam com facilidade, precisam ser bem tratadas, muito bem secas. Minha filha prefere as de barro, pretinhas também, ótimas.

No século 20 apareceram aquelas maravilhosas, Le Creuset, esmaltadas, e que cores estonteantes! Pesadas, e se a comida queima e gruda nelas, o que é comum, podem ficar horríveis. Cuidado para não lascar. E há as de vidro, interessantes, teve uma modinha delas, mas para cozinha brasileira que gosta de refogar tudo antes, a cebola, o alho, não são as ideais. Boas para ferver, não para refogar.

Não existe a panela ideal. Esquece. Elas se tornam as nossas preferidas morando na nossa casa, cozinhando nossas comidas, tendo seus dias de mau ou bom humor, queimando o molho, acertando a carne assada. Nós é que "construímos" nossas panelas. É como casamento, pode ou não dar certo.

Palpite para leitura: "Pense no Garfo!" (Zahar, 344 págs., R$ 54,90), de Bee Wilson.

ninahorta@uol.com.br

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ninahorta.blogfolha.uol.com.br


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