Crítica restaurante
Despojado e elegante, Picchi acerta nas massas
O chef Píer Paolo Picchi faz pratos italianos tradicionais e sofisticados em seu novo restaurante na rua Oscar Freire
O chef Pier Paolo Picchi está de volta à ativa, no novo restaurante que tem seu sobrenome. Ele vinha de fechar o ponto anterior, desalojado para a construção de um edifício, e onde tentava fixar uma casa mais descontraída e de menu mais trivial.
Não era bem a sua cara, na verdade. Picchi, 38, começou na cozinha aos 17 anos, estagiando para Alex Atala no antigo Filomena. Depois passou nove anos na Europa, onde trabalhou em casas estreladas na Itália e Espanha.
O primeiro Picchi nasceu em São Paulo, no Itaim, em 2007 --depois que, de volta ao Brasil, ele passou por cozinhas como as do Emiliano e do Café Antique. Ele propunha pratos sofisticados da tradição italiana.
É para onde ele volta ao ocupar o espaço no miolo dos Jardins que por mais de 20 anos foi do Sands, um cansado restaurante de flat que agora os proprietários --os irmãos Dora e Claudio Zarzur, donos do hotel-- procuram renovar ao se associar ao chef.
O resultado é promissor. O lugar mudou completamente, está elegante, mas despojado, com muita madeira. Picchi não está fazendo um cardápio rebuscado (como era na primeira casa, no Itaim), mas é uma cozinha trabalhada e com muito detalhe, com mais fôlego do que a da sua recente tratoria.
A diversão pode começar com cascas de batata fritas, com bresaola servida como carpaccio, ou uma bresaola de atum preparada na casa. E pode seguir com sua versão da salada caprese (com tomate grelhado, mozarela de búfala, pasta de azeitonas, pesto e rúcula); ou com uma cremosa polenta mole com queijo gorgonzola e pancetta crocante.
As massas, como é habitual na história do chef, ganham destaque, muitas delas produzidas na casa --como os pici (pequena massa caseira típica da Toscana) com molho de linguiça calabresa, feijão-branco e peperoncino.
São principalmente receitas tradicionais, como espaguete com vôngole e mariscos de Santa Catarina e pappardelle ao ragu; mas, também, com massa caseira, vale provar os agnolotti de coelho à caçadora, servidos no caldo de cozimento e tomilho fresco.
Do mar há um vistoso grelhado do pescador (camarões, lulas, polvo e peixe temperados com limão-siciliano e azeite extravirgem); da terra e do ar, o confit de pato com creme de batata-doce ao vinho tinto; e o farto ossobuco com fregola (massa típica da Sardenha) ao açafrão e funghi.
Toque original nas so- bremesas: arroz arbóreo doce com baunilha da Amazônia; e queijadinha com sorvete de coco.